segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Max Pagès e os gestos...

Finalmente há movimento! :)

A propósito dos comentários às duas questões anteriores, cá vem nova "tirada"!
Desta vez, e como até já vos falei do meu Professor de Introdução às Ciências Sociais, há 20 anos atrás, Jacques Houart, na altura o professor disse-me que talvez apreciasse uma leitura... de Max Pagès, O Trabalho Amoroso - Elogio da incerteza, nesse pequeno livro encontrei algumas letras que me ficaram a bailar na memória desde essa altura. Aqui fica um bocadinho a ver se abre o apetite:

"Cada gesto é necessário e leva a outros gestos
desconhecidos, necessários também,
que levam a outros gestos e a outros ainda
desconhecidos

Se se aceitarem os gestos que são necessários às pessoas
elas podem viver, senão, rebentam
amar é aceitar os gestos dos outros
amar é fazer os gestos que nos são necessários
amar é arriscar ficar só, é também arriscar
destruir
os outros e a si próprio"
12/4/1973 Escrito em B. com Béatrice


Que vos parece?
Se as pessoas não fizerem os gestos que precisam fazer... rebentam?
E que gestos podem ser feitos? 
Que transições implicam os gestos que fazemos? Quando?
Só os gestos tornados "públicos" são indicadores de possíveis transições? Então?
Amar é aceitar?
Amar é arriscar?
O quê?
...

15 comentários:

puquenina disse...

Amar é aceitar. Amar é arriscar. Amar é fazer tudo e saber não fazer nada. Amar é para mostrar ao mundo e só para nós. Amar é público e é privado. Amar é agir e ficar impávido. Amar é dar e receber…

Não quero de todo definir o amor, nem tenho capacidade para tal, mas é esta ambiguidade que demonstra a sua grandeza. É esta ambiguidade que nos transcende e nos paralisa por querermos saber mais e mais e conhecer e poder e ter…
Não quererem receber o tanto que temos para dar, visível ou não, é rebentar com o balão que somos nós, que precisa dos outros, dos gestos dos outros para crescer ou simplesmente, para não morrer. Há momentos para tudo, sem dúvida, mas aquele gesto no momento certo, aquela palavra, aquele olhar mantém-nos vivos e capazes de dar e darmo-nos.

Aceitar, claro que sim. Aceitar o que nos dão e o que não nos querem/podem dar. Tolerar. Como refere Chickering, devemos trabalhar no sentido de suportar e poder resistir ao desconforto, às agruras do estar com… das relações interpessoais. Para tal, temos de ter consciência que as pessoas, “simplesmente” são diferentes, e é nessa diferença que está a riqueza da relação. Daquela relação com aquela pessoa (Ferreira & Ferreira, 2001).

Tolerar, para criar relações de intimidade, mais maduras, mais capazes, mais sustentadas, mais interdependentes (Chickering). Para tal arriscar! Arriscar ser independente para poder ser interdependente. Para tornar as relações “menos ansiosas, menos defensivas, menos influenciadas por reacções passadas inapropriadas, mais amigáveis, mais espontâneas, mais calorosas e mais respeitadas” (White, 1963, cit in Ferreira & Ferreira, 2001, p.139).
Sermos capazes de reconhecer e aceitar a interdependência, de tolerar as diferenças, de criar relações de intimidade depende, sobretudo, de quem somos nós, da percepção do nosso próprio Eu. Assim, a identidade é o “capital próprio acrescido de novas experiências, designadamente: sensações corporais, a imagem de si próprio, sentimentos, o som do próprio nome, o sentimento de continuidade das próprias memórias e um aumento crescente de juízos sociais independentes das palavras e comportamentos dos outros” (Chickering, 1986 cit in Ferreira & Ferreira, 2001, pp. 140).

Saber quem somos reside na percepção do nosso passado, passado este que se reflectirá no presente, e que transmitirá confiança para enfrentar o futuro. Reside na consciência que a nossa identidade é co-construída na relação com os outros, nas experiencias, nas vivencias de papeis e nas significações que colocamos a essas (Ferreira & Ferreira, 2001). Reside na comunicação, analógica ou digital, simétrica ou complementar ena relação e/ou no conteúdo que a suporta (Teorias da comunicação Humana). Porque “Todo o comportamento é comunicação”, cada gesto é uma mensagem…

E que mensagem queremos passar?!

Liliana disse...

Poema dos gestos

Existem gestos que gesticulam
O que não se diz
Gestos para o dia
Gestos para a noite
Gestos para cada momento
Que não se vêem, nem se ouvem...

E o teu gesto
O gesto deles, delas, de toda a gente
São feitos de linhas cruzadas
Como nuvens sobrepostas
Numa tela de muitos ontens

E fechou-se o portão
Que o poema dos gestos entreabria,
Anoitece aqui.. numa noite de todas as noites
E a sorte... de sortes distintas...
Entre os alpes da fantasia dos actos
Que num tornado de eloquência
Se dispersa... por coisas que não vês
E adormece... nos lençóis... que não és...
A pele... e a flor... à flor da pele...
Hesita a demora...
Ordena-se a forma do amor...
E os conceitos que conheces...
Findam... no espelho sem cor
Que a harmonia do calor.. no teu corpo
Abre essas aveludadas asas e sobe no horizonte...
Para a forma inevitável de magia...
No topo.,
Num alcance...
Um poema... dos gestos
Aqui...
Quando os gestos...
Gesticulam...

(Pedro Campos)

Como bem diz este poema, os gestos dizem o que não queremos, não podemos ou simplesmente não conseguimos dizer... mais do que em palavras o amor dá-se, mostra-se ao outro através dos gestos... gestos simples como um sorriso, um abraço, um aperto de mão, uma palmadinha nas costas... os gestos dizem o que as palvras não conseguem dizer, falam quando a boca se recusa a falar, quando como por mágia, ficamos mudos...
Neste sentido, os gestos são fundamentais na interacção com os outros, permitem-nos um maior conhecimento de nós proprios e das pessoas que nos rodeiam... quantos de nós já não ouviu aqule amigo dizer: "notei, pela tua cara, que estavas farto de estar ali"... ao ouvir isto sentimos que, de facto, o nosso amigo tem razão e muitas vezes pensamos "mas que cara é que eu fiz?"... fizemos um gesto, um gesto que apenas algumas pessoas são capazes de interpretar, um gesto que apenas algumas pessoas conhecem, apenas aquelas pessoas que nos conhecem tão bem e são fundamentais para nós... no entanto, existem outros gestos... gestos que são "universais" e que qualquer desconhecido consegue interpretar... gestos que não podem ser compreendidos de uma forma isolada, mas sim considerados dentro de um contexto...
Como refere Sapir, no nosso dia-a-dia respondemos aos gestos com uma enorme vivacidade, segundo um codigo elaborado e secreto que não está escrito em parte alguma, que não é conhceido por ninguém,mas que é compreendido por todos.
Para além de um lado "mágico", os gestos também têm o seu lado "negro"... por vezes, um unico gesto que alguém nos faça chega para construirmos uma imagem acerca dessa pessoa, uma imagem que ninguém nos garante estar certa, mas que nos acompanha e chega para decidirmos se essa pessoa nos agrada ou não... Estas são situações que necessitam de ser modificadas, que precisam de uma alteração na forma como analisamos os outros, pois só assim conheceremos a sua verdadeira essência (Pestana, 2005).

"É um facto que um gesto vale mais do que mil palavras, contudo são necessárias mais do que mil palavras para abordar um assunto tão amplo que contemple o gesto e o seu possível significado"... (Pestana, 2005)

"O grande gesto nas pequenas coisas faz uma grande vida."
(Eugenia Price)

Inês Dimas disse...

Sim, amar é, acima de qualquer coisa, arriscar. A partir do momento em que deixamos que o outro entre no nosso mundo, estamos a arriscar a nudez de sentimentos. Se amar é arriscar é também incerteza e, esta, está presente em toda a nossa vida. Se tivéssemos a certeza que daria certo à priori, então, qual a piada?? Se assim fosse não precisaríamos de lutar...Tudo na vida é uma questão de jogo, de sorte e de azar. E a vida pode ser um jogo muito perigoso...Agora, uma questão fundamental que encontramos aqui é a necessidade de nos comprometermos com algo ou com alguém. Se houver este compromisso, então os gestos de carinho não têm que ser públicos. O mais importante não é exteriorizar o amor que sentimos perante o mundo, mas sim perante a pessoa que temos ao nosso lado. Se assim for não "rebentamos", mas tudo depende do compromisso que as duas pessoas mantêm.
Segundo a Terapia Existencialista, o sentido da vida implica relação, e a partilha de afectos dá sentido à nossa vida. Portanto, seja qual for a manifestação de afecto e, independentemente do sentido que lhe atribuímos, aquilo que mais importa é que o gesto seja efectivamente dirigido com sinceridade para o outro. É verdade que pode não ser correspondido mas, "amar é arriscar ficar só, é também arriscar destruir os outros e a si próprio".

Podemos distribuir carinho de tantas formas... temos é que nos dar um pouco mais...

Inês Dimas (nº20051745)

Patrícia M. disse...

Este texto remete para a importância dos gestos, ou seja de sermos capazes de os fazer, quantas vezes pensamos e não o dizemos à pessoa que amamos... "nem tudo o que pensamos dizemos", mas será importante muitas vezes dizê-lo, as pessoas não nascem ensinadas a saber o que queremos delas, o que precisamos da relação que construímos com aquela pessoa, devemos assim fazer os gestos necessários à relação, desde partilhar sentimentos, mostrar à pessoa que a amamos, sermos capazes de ser até patetas para mostrar à pessoa o quanto a amamos, porque se não formos capazes disto, rebentam, ou seja aquela relação termina. Sermos capazes de Amar é sermos espontâneos, verdadeiros, livres, aceitar o outro pelo que ele é e não por aquilo que sonhávamos que fosse, não há princípes nem princesas encantadas, só pessoas reais com sentimentos que precisam de amar e ser amadas, por muito que possamos negar o amor, ninguém vive sem amor... temos é de aprender a amar... e esses são os gestos que a muitos de nós nos são desconhecidos... Muitos de nós não sabemos amar, vivemos no nosso próprio mundinho egoísta e queremos que nos façam as nossas vontades sem nada dar em troca, há que fazer esses gestos, os gestos que provam ao outro(a) que o/a amamos, devemos arriscar, ser patetas, lutar pela pessoa que amamos, de forma a que possamos construir o amor, sim, como um professor meu mo disse e acredito, o amor constrói-se, não é como a paixão que é instantânea e arrebatadora, mas que passado meses acaba. O amor é preciso construí-lo, fazer os gestos que mostrem o quanto amamos aquela pessoa e então aquela relação pode viver...
Amar é arriscar ficar só, pois “antes de ter uma relação sólida com outra pessoa, é preciso ter uma relação com nós mesmos” (Corey, 2001), é preciso estarmos sós, aprender a estar connosco mesmos, a amarmo-nos para depois poder amar outra pessoa... quando se diz que um gesto desconhecido leva a outros, penso que é porque nunca sabemos o que irá ser a reacção do outro aos nossos gestos, podemos pensar que a pessoa irá ter uma reacção e ela terá exacatamente a oposta, nunca sabemos o que podemos esperar do outro...

Patrícia Mano nº 20082499

Unknown disse...

Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca

Amar e tudo, mas tudo pode ser nada... E fazer gestos, na sua essência, pode ser tão involuntário como o amar! Não se escolhe a quem, onde, como, porquê... Apenas se fazem gestos, apenas de ama...
Julgo que debater acerca de temáticas tão essenciais como a comunicação (seja por gestos ou não) e o amar, pode revelar-se limitador, uma vez que se torna impossível transmitir em palavras o que se pensa ou sente...

No entanto, Florbela Espanca é a melhor poetisa que conheço a falar-nos desta segunda temática!

Além disso, já muito terá sido dito, até agora, nos últimos comentários... Sabemos pensar, hein?!?

Natália Henriques Antunes, Nº 20051687

Inês Oliveira disse...

Após tudo o que já foi dito, penso que, acima de tudo, amar é acreditar... Em nós que amamos e esperamos ser amados, naqueles que nos amam, nos que pensamos amarem-nos e mesmo naqueles que gostaríamos que nos amassem… No fundo penso que amamos o tudo e o nada, mas poderíamos viver sem o fazer? E se não nos amássemos a nós próprios e à nossa existência? Faria sentido viver? Na minha opinião viver é mesmo isso: amar e acreditar. Não só o passado que, no seu melhor e pior nos permitiu auto-construir, ditando aquilo que hoje somos, como também o presente que hoje escrevemos e que pela sua importância no imediato exige tanto de nós, mas acima de tudo no futuro, que sendo uma incógnita para todos, dita as nossas decisões e comportamentos diariamente, fazendo-nos acreditar. A este propósito diz-nos Carlos Drummond de Andrade neste excerto do seu poema tão-somente intitulado Amar:

"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?"

Neste sentido, concordo plenamente com o que é dito pela Célia quando esta se refere à capacidade do indivíduo desenvolver a tolerância e o respeito e aceitação das diferenças individuais. Porque, tal com refere Chickering (Ferreira & Ferreira, 2001), o desenvolvimento deste tipo de competências permite ao indivíduo estabelecer relações de intimidade, ou seja, amar. O que nos remete novamente para a ideia de que não é possível viver sem amar. Amamos para crescer e aprender mas, ao mesmo tempo, é ao crescer e aprender que conseguimos continuar a amar. Afinal o que move as pessoas, senão o amor pelas coisas, pelo mundo, por alguém? Durante toda a nossa vida vamos aprendendo a amar pequenas coisas... Aprendemos a apreciar o que nos rodeia e apaixona-mo-nos por isso… Não é este amar que nos leva a “fazer os gestos que nos são necessários”? Porque amar impulsiona-nos a tomar atitudes, a fazer gestos, que não podem nem devem ser contidos. São também estes que nos permitem viver e aprender… Afinal, amar é a essência da vida...


Inês Oliveira (nº20051675)

Jorge disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jorge disse...

Se as pessoas não fizerem os gestos que precisam de fazer rebentam?

Os gestos apresentam-se como componentes essenciais no processo de comunicação humana. Se as pessoas não fizerem os gestos necessários poderão rebentar? Claro que sim! Os gestos não feitos ou contidos vão enchendo a “memória do corpo”! Ao atingir o limite da sua capacidade, esta transborda. E aí, a “memória da alma” já não quer, ou não pode, receber os excedentes. Por isso, as pessoas rebentam, explodem como vulcões. À semelhança destes, entram em actividade explosiva, enquanto outros entram em actividade efusiva.
No primeiro caso, as explosões são repentinas e violentas, danificando o próprio e os que estão à sua volta. A comunicação comporta danos irreversíveis e fica em estado de destruição permanente. No segundo caso, a explosão tende a ser calma, mas os seus efeitos não deixam de ser devastadores. Em ambos os casos, os gestos dão lugar a lavas, a piroclastos e até a nuvens ardentes!
É certo que os resistentes existem e esses não explodem. Mas também rebentam! Prova disso são as fissuras que vão apresentando em actos de comunicação diária.

E que gestos precisam de ser feitos?

Cada um tem os seus gestos. Com eles, exprime as suas emoções (e também alguns pensamentos). Há gestos de alegria e gestos de tristeza. Há gestos de dor e gestos de felicidade. Há gestos de… simpatia, cuidado, partilha… mas também de egoísmo. Há gestos que são palavras e palavras que são gestos. Enfim, há tantos gestos…

Amar é aceitar?

Amar é aceitar os gestos dos outros, os gestos que lhes são necessários. Amar é também ter a coragem de “fazer os gestos que nos são necessários”. Logo, amar é uma partilha de gestos.

Amar é arriscar?

O amor faz parte da vida e o risco também. No amor, há o risco de ser feliz e o risco da desilusão, da dor! Há o risco de “destruir os outros e a si próprio” e o risco de construir vínculos.
Do amor, faz parte a descoberta do risco. As pessoas que desistem de amar não estão dispostas a construir vínculos. Fecham-se para o amor, para o risco e o resultado é a solidão: inevitável ponto de chegada de quem não quer descobrir nem o seu próprio interior nem o interior do outro. São pessoas que desistem de se reinventar com o outro. No fundo, acabam por substituir o risco de amar pela certeza de ficar sós, vazios…

Jorge Martins
Mariana Coelho

Rafa disse...

Na minha opinião, o ser humano é, infelizmente, cada vez mais "contido" na expressão gestual. Cada vez tem mais medo de mostrar o que sente, a resposta para isso não tenho, mas é o que eu sinto...Por exemplo, nesta época natalícia, vemos inúmeras campanhas para as mais diversas instituições. Concordo plenamente que as façam, mas...porque é que não as fazem ao longo do ano? Não é só no Natal que as pessoas precisam de sentir o amor, o carinho, a solidariedade, mas sim todos os dias. Com o nosso "corre-corre" de todos os dias, penso que muitas vezes não expressamos aquilo que sentimos pelos outros como devíamos, e isso faz falta. Faz falta um sorriso ou um abraço mais longo, faz falta olhar mais fundo nos olhos do Outro e tentar perceber se realmente ele está bem ou se precisa de mais de nós...Além disso, penso que as novas tecnologias também vieram por um lado inibir a nossa expressão gestual: com as sms e o messenger, se por um lado, encurtam a distância, por outro, não permitem o verdadeiro contacto entre as pessoas, e não tornam possível perceber, muitas vezes, como está realmente a outra pessoa.
Quanto ao que é amar, penso que é particularmente subjectivo, sendo diferente conforme a idade, conforme as pessoas a quem nos referimos, conforme o tempo que passa...A verdade é que é algo grandioso, que passamos toda a vida a procurar e que nos completa. Tal como defende a terapia Existencialista, a Relação faz parte do sentido da vida, sendo essencial para a plenitude do indivíduo. No amor, ou seja, para a humanidade, os gestos são fundamentais, para a nossa comunicação, interacção, bem-estar e realização. São indispensáveis para a ligação, sendo uns mais universais e outros mais subjectivos, na medida em que o seu significado muda consoante o contexto e as vivências da pessoa. Ao amar, temos que ter em consideração estas diferenças, para que possamos compreender bem os seus gestos, o seu significado, e saber como os devemos retribuir. Mas, acima de tudo, não devemos ter medo dos gestos, devemos incentivá-los, pois, na verdade, estes são gratificantes, e é "dando-nos" aos outros que crescemos enquanto pessoas e damos hipótese à Humanidade de evoluir.

Rafaela Fernandes

Rute disse...

Uma vez que em toda a comunicação estão implícitos gestos, e tendo em conta o 1º axioma da comunicação humana, segundo o qual é impossível não comunicar, então estão sempre a ser feitos gestos, explícitos ou não ...

Se as pessoas não fizerem os gestos que precisam fazer...rebentam?

Se pensarmos nas pessoas em termos metafóricos como um balão, perceberemos que se não fizerem os gestos que precisam fazer (no caso do balão, se estiver sempre a ser enchido com ar) rebentam, é preciso exteriorizar aquilo que sentimos através dos nossos gestos, dar-nos a conhecer às outras pessoas, são precisos gestos na relação com o outro ... são inevitáveis, são basilares na nossa existência enquanto seres relacionais [e tal como a terapia existencialista postula, a relação faz parte do nosso sentido de vida, sendo de indelével importância para que o indivíduo atinja a sua plenitude] é através deles que expressamos quem somos, as nossas emoções ...

Não me parece que isto venha no nosso código genético, a verdade é que vamos aprendendo, com as perdas, que nos ajudam a esculpir a nossa personalidade, com as conquistas, com um sorriso, com um virar de costas, com aquele olhar ... com gestos ...

E amar?

Estará relacionado com estes gestos de que falava em cima? Parece-me que sim, se pensarmos que amar proporciona-nos um turbilhão de gestos (inexplicáveis?!), que levam ainda a outros gestos e que no completar de gestos, na resposta aos gestos um do outro é que vamos construído uma relação e aprendendo a amar ...

Amar é aceitar? Amar é arriscar?

Há quem diga que amar é tudo, e tanto já se ouviu dizer sobre amar, a verdade é que amar é o que quisermos, amar depende da forma como olhamos, depende do nosso caleidoscópio, depende da nossa vontade .... depende da nossa crença nesse sentimento sublime (pelo menos para mim) que é o amor...

E é com tudo isto que se vai consolidando o nosso desenvolvimento ... e é com isto que nos tornamos seres maiores (ou não), que nos tornamos especiais, únicos, é isto, é mesmo isto!




Rute Aguilar,

nº20082504

Nuno Antunes disse...

A obra de Max Pagès é uma inegável fonte do conhecimento e do desenvolvimento humano e intelectual, com todas as suas pertinentes e interessantes questões e afirmações mas parece-me, para já, que este é não só, um elogio à incerteza mas é também um elogio às relações humanas e à indiscutível importância dos gestos e do saber ser, saber estar e saber fazer na vida e em sociedade.

Assim, entramos na questão: O que são afinal as relações humanas? Necessitarão de gestos? Serão estes a base das relações afectivas? Muitas vezes diz-se que o mais simples dos gestos diz tudo... será este argumento verdadeiro? Depende!!

Como nos diz Pagès, “Cada gesto é necessário e leva a outros gestos/ desconhecidos, necessários também,/ que levam a outros gestos e a outros ainda/ desconhecidos”
Outra questão importante impera ao se inserir este breve excerto: o que é o desconhecido? O desconhecido, neste caso, reserva-se, na minha opinião, à imprediscibilidade dos gestos e das suas diversas manifestações, muitas vezes desconhecidas tanto para emissores como que para receptores. Embora o gesto, o toque e a palavra transmitam amor, carinho e bem querer, este nem sempre é adequadamente transmitido ou recebido.

Assim, e como desde cedo se compreende, para entender Pagès não se pode fazer uma leitura literal, há que ler nas entrelinhas…
“Se se aceitarem os gestos que são necessários às pessoas/ elas podem viver, senão, rebentam/ amar é aceitar os gestos dos outros/ amar é fazer os gestos que nos são necessários"

Os gestos que são necessários ao Homem podem ou não ser aceites por estes e eles podem “rebentar”, ou não… Este rebentar é aqui sinónimo de fúria, desespero, amor, loucura e ciúme. E muitas vezes todos estes sentimentos e formas de expressão, conotadas como intensas, expressivas, fortes e com grande carga emocional, estão frequentemente atribuidos a grandes questões da vida humana, da qual o Amor é uma das principais.
Porém, não me arrisco a tentar definir algo tão complexo e subjectivo e tento responder a esta problemática necessidade com uma premissa do próprio autor, que afirma que “...deixei de acreditar que existe um ponto de certeza de onde possa falar com segurança, seja ele a experiência ou a teoria (...)...as dúvidas, as lacunas, as contradições têm tanto valor como a coerência da sua arquitectura. ...”. (Pagès)
Quanto às questões “provocadoras” colocadas pela Professora, considero que Amar é de facto aceitar, é arriscar, os gestos podem ser criados e assim não serem genuínos, os “públicos” podem ser indicadores de transição mas podem também ser indicadores de um inicio ou um fim. Contudo, expressar o Amor ou qualquer outro comportamento por gestos pode ser problemático: que o digam os surdos ou populações com necessidades especiais. Muitas vezes é necessário saber agir de outras formas...

Ao pensar nesta questão, remeto-me rapidamente para uma mini-série, baseada num romance de Charlotte Brontë, que vi recentemente e que tão expressamente me lembra tudo isto: Jane Eyre. Neste verifica-se claramente o poder dos gestos como forma de amar e de expressar os mais intimos e profundos sentimentos, formas de estar e de como por vezes não são necessárias palavras para nos “dizer o que nos vai na alma”. Contudo, neste caso ocorre um grande periodo de espera antes de todo e qualquer comportamento manifesto...

Diz Barthes que "... fazer esperar é prerrogativa constante de quem tudo pode, passatempo milenário da humanidade...". Ao pensar nesta citação recordo-me imediatamente do provérbio popular tão comunmente utilizado que afirma que "quem espera sempre alcança", defendido vorazmente por muitos, e outro, "quem sabe faz a hora, não espera acontecer", que muitas vezes tento praticar (apesar de a tentação de cair no primeiro é forte e arrebatadora por vezes…). E assim questiono-me se será que quem espera sempre alcança, ou seria isso uma forma de fatalismo, a 'desculpa dos acomodados'? Considero que sim, porque, neste caso, imagina-se que "o que tiver de ser, será" e, assim sendo, não se precisaria mover para se atingir os objectivos. Ou seja, tudo viria por determinação divina. É o que se denomina de Destino, tal qual o fio da vida humana, tecido pelas Parcas na mitologia romana. Mas aqueles que assim pensam acabam por desmerecer o livre arbítrio, ou mesmo aniquilá-lo, tornando-o totalmente dispensável, pois 'se o que tiver de ser fatalmente e inevitavelmente o será', obviamente que 'aquilo que não tiver de ser, não o será', não obstante, os maiores esforços para os contrariar. Consequentemente, todas as batalhas e lutas, tornar-se-iam descabidas e levariam apenas ao desgaste da energia vital.

Este contexto trata, portanto, da inacção, que se distingue, porém, da omissão. Quando uma acção se faz necessária e não é executada, ocorre a omissão. Neste caso, os que não lutam, não pensam que estão a salvo das responsabilidades, porque a omissão é igualmente uma acção, só que negativa e precisa ser considerada. Os que se omitem são tão responsáveis quanto os que agem erroneamente, com a diferença que não são acusados pelo erro; no máximo, pela covardia. Mas há uns raros que se omitem por pura sabedoria, reconhecendo que em tudo há um momento, tempo de agir, e o tempo de se omitir.
Por outro lado, no Existencialismo, Sartre defende que a inevitável condição humana é de sermos “condenados à liberdade”. Essa condição, mesmo em pequena escala - se considerarmos que nunca somos totalmente livres - gera uma imensa responsabilidade sobre as nossas vidas. Por isso foi tratada como uma “condenação”. Nós somos livres, e não temos escolha quanto a isso. É nessa liberdade que se encontram as razões daqueles que não se admitem esperar. Com base nesse fundamento, há os que lutam incansavelmente, julgando que o resultado final sempre dependerá da sua intervenção e não acreditando no Destino nem na predestinação dos seus feitos; assim, e como diria Mário Cesariny “Ama onde começa a estrada” porque a estrada é feita pelos pés que lá caminharam e não pela necessidade ou vontade divina de assim o ser.

E quanto àqueles que fazem na hora e não esperam acontecer? Acaso a verdadeira força não estaria naquele que consegue e sabe esperar? Pois quem espera, mesmo não atingindo o objectivo desejado, alcança o domínio de si próprio, o que nos nossos chavões se denomina de resiliência ou capacidade de projecção a longo prazo, e quem aprendeu a dominar-se já está na paz, e isso é afinal a demanda milenar de muitos. Esta questão é essencial, pois antes de se fazer algo torna-se muito importante deter sabedoria para agir. Pode revelar-se pouco vantajoso actuar de qualquer maneira e feitio, sem noção das implicadas consequências. E exemplo claro disso são os planos de guerra traçados com base no impulso do momento: não correm bem e acabam por se redimir para as crónicas dos tratados enciclopédicos.

É facto, há os que não conseguem esperar tempo algum, e saem 'des-esperada-mente' em busca dos seus ideais, o que às vezes os leva a “tropeçar” logo no início, e com o tropeço vem a desistência. Há os que tropeçam muitas vezes, mas não desistem nunca, não se acomodam e lutam obstinadamente, e acabam obtendo proveito disso, embora de algumas se arrependam, às vezes sem ter como as remediar e sofrendo as desvantagens de tão descurado gesto. Há, ainda os que sempre esperam, e nunca arriscam e, se nada ganham, também não se culpam pelo que perderam. São os verdadeiramente acomodados. Finalmente, há aqueles que sabem, ao mesmo tempo, esperar e reconhecer o momento de fazer acontecer, e estes são verdadeiramente sábios, detentores de uma intuição que geralmente os leva a agir correctamente e a alcançar as maiores alturas na realização de seus sonhos. Estes devem ser vistos como modelos de virtude e de excelência e como algo a aspirar, enquanto deambulamos num dos outros estados.
Mas a vida é um caleidoscópio de múltiplos factores, alguns totalmente imprevistos e desconhecidos, cada um com os seus diferentes gestos associados, desde o acomodado, ao lutador, ou mesmo ao sábio. Por isso, nem sempre teremos êxito, por mais que saibamos esperar e reconhecer o momento. Como diz Paulo Coelho, “Um guerreiro da luz precisa de paciência e rapidez ao mesmo tempo. Os dois maiores erros são: agir antes da hora ou deixar que a oportunidade passe longe, “Assim, a sabedoria contribui para se chegar na hora certa e obter o resultado desejado.”.

Assim, todo este pequeno grande excerto nos remete para a problemática do ser ou não ser, para a necessidade de agir ou de esperar. Uma pertinente questão que Pagès ilustra brilhantemente e que se coloca num abismo de múltiplas possibilidades, em que uns podem cair, mas que a outros “ensina a voar”. O vôo da verdadeira humanidade, da realização de potencialidades inimagináveis. O eterno 'vir-a-ser', o arriscar, o realizar, o esperar, o superar. E disso o Amor não é nem nunca será excepção, pois todo ele é formado por todos estes pequenos momentos.

Portanto, no agir da acção ou no agir da espera (pois a sábia espera também é uma acção), é fulcral sentir que demos o melhor de nós, deixamos as omissões e a mediocridade, e ingressamos numa viagem de encontro aos infinitos modos de sermos e de vivermos. Assim, gostaria de deixar como mensagem que o mais importante é aproveitar cada minuto da vida ao máximo e da forma que nos surgir como mais adequada no momento, pois o tempo não volta atrás, o que volta é a vontade de voltar o tempo.

Guronsan disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Guronsan disse...

O que é amar? Não sei...
E que importa, afinal?


"Quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar..."

Alberto Caeiro

rainbow disse...

Começando pelos gestos...
Não nos podemos esquecer que os gestos fazem parte do tipo de comunicação (não verbal) que muitas vezes é mais expressiva do que aquilo que é dito. Muitas vezes os nossos gestos confirmam o que dizemos, outras vezes provam incongruências...
É necessário também não esquecer que muitas vezes não pensamos os gestos que fazemos, que muita da comunicação não verbal não é intencional mas automática.
Questiono um pouco a expressão "gestos tornados públicos"... Penso que se estes gestos forem efectivamente pensados podem ou não ser tornados públicos mas continuo a pensar que muitos gestos são automáticos, que os fazemos sem pensar...
Considero também que os nossos gestos (automáticos) revelam o nosso desenvolvimento sendo assim indicadores das transições pelas quais vamos passando.
Muitas vezes se fala de um gesto de amor... O que é um gesto de amor? O que é amar?
Atrevo-me a deixar uma opinião que pode ser controversa mas, para mim, amar é uma caminhada por uma estrada de altruísmo. Sendo assim, é aceitar, é arriscar e arriscar-se (a ganhar e a perder).
Quando se fala em amar, a primeira ideia é relativa a uma relação de amor entre pessoas. No entanto, podemos amar quase tudo: as pessoas, as causas, o trabalho...
O amor pode ser visto em quase tudo...
Por exemplo, Chickering definiu sete vectores de desenvolvimento para estudantes universitários e eu consigo ver em cada um deles uma definição de amar:
1 - Amar é desenvolver uma competência;
2 - Amar é saber gerir emoções;
3 - Amar pressupõe uma relação de interdependência;
4 - Amar pressupõe a existência de relações interpessoais maduras;
5 - Amar implica uma identidade bem estabelecida;
6 - Numa relação de amor existe um propósito;
7 - Amar pressupõe também integridade.
Vistos desta forma os sete vectores de desenvolvimento de Chickering, talvez se possa pensar que a capacidade de amar se desenvolve notavelmente e consolida nesta fase de desenvolvimento.

Deixo a questão: Estarei certa?

Leonor disse...

ola eme
venho agradecer-te a visita e o comentario e aproveito sempre para dar uma vista de olhos no que foi postado entretanto.

tema dificil de comentar este e perante a qualidade dos comentarios que houve nem me atrevo a fazer o meu.

porém digo apenas uma coisinha, pequenina.
o maior gesto está no olhar de cada um para o objecto (pessoa, coisa). ele, o olhar, esse gesto, é o reflexo da alma que diz tudo sobre o nosso afecto, seja de aproximação ou de afastamento.

beijinhos