quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Vector - Gestão das Emoções

Da Educação pela Arte a uma Ecologia dos Afectos

"... os afectos são modos e figuras das relações que se constituem, estabelecem e exprimem nas diferentes formas de o desejo e o pensamento viverem no corpo e nos sentidos, no mundo físico, social e cultural que estes habitam. ...
Se não dissocio os afectos do pensamento, não os reduzo ao pensamento. O que significa que, se os afectos têm uma dimensão cognitiva, eles ultrapassam essa dimensão pelo menos no que se refere aos limites com que estamos habituados a falar e a  ouvir falar de conhecimento. ...
... (os afectos) definidos simultaneamente como relações, comportam um dinamismo projectivo e uma tensão existencial que o pensamento nem sempre inclui.
...
Invocando-os, entendemos que os afectos são figuras das relações inerentes às formas como o desejo e o pensamento habitam o corpo e os sentidos, que, por sua vez, se inserem num espaço físico, social e cultural que condicionam e que os condiciona. ..."
(André, 1999, 67-68)

Excerto de Pensamento e Afectividade, de João Maria André, publicado pela Quarteto, Coimbra

Proposta:
Atendendo ao vector - Gestão das Emoções, 
Comente a ideia de "gestão" de afectos e/ou emoções partindo da leitura do autor citado.

Os Sonhos de Einstein

11 de Maio de 1905
Quem passar por Marktgasse depara-se com uma visão de pasmar. As cerejas rigorosamente alinhadas, fila a fila, nos expositores de frutarias, os chapéus esmeradamente empilhados nas chapelarias, as flores dispostas nas varandas em perfeita simetria, nem uma só migalha no chão da padaria, nem uma gota de leite nos ladrilhos da leitaria. Nada está fora do lugar.
Quando um grupo de amigos sai de um restaurante, a mesa fica mais irrepreensivelmente posta do que antes do jantar. Quando a brisa sopra suavemente, as ruas ficam varridas, o lixo e a poeira são empurrados para os limites da cidade. Quando as ondas se abatem sobre os rochedos, a falésia reconstrói-se por si mesma. Quando as folhas caem das árvores, dispõem-se no chão em V como um bando de aves migratórias. Quando as nuvens desenham caras no céu, as caras não se desfazem. Quando um cachimbo enche de fumo uma sala, o fumo retira-se para um canto, deixando o ar respirável. As varandas pintadas e expostas ao vento e à chuva tornam-se mais reluzentes com o tempo. O ribombar do trovão faz o jarro partido tornar à sua antiga forma, os cacos saltam para os sítios que lhes cabe, onde se encaixam e unem. A fragrância que se eleva de uma carroça que passa carregada de canela, longe de se dissipar, intensifica-se com o tempo.
Parecem estranhas estas ocorrências?
É que neste mundo a passagem do tempo traz uma intensificação da ordem. A ordem é a lei da natureza, a tendência universal, a directiva cósmica. Se o tempo é uma seta, essa seta aponta para a ordem. O futuro é um padrão, uma organização, uma união, uma intensificação; o passado, um mero acaso, uma confusão, uma desintegração, uma dissipação.
Dizem os filósofos que sem a existência de uma tendência para a ordem, o tempo não teria qualquer significado. O futuro não se distinguiria do passado. As sequências de acontecimentos não passariam de outras tantas cenas aleatórias extraídas de mil romances. A história seria imprecisa como a neblina que envolve as copas das árvores ao entardecer.
Num mundo assim, os que têm as casas desarrumadas deitam-se simplesmente na cama, à espera que as forças da natureza lhes varram a poeira do peitoril das janelas e lhes alinhem os sapatos nos roupeiros. Os que têm os negócios desarrumados podem divertir-se em alegres piqueniques enquanto as suas agendas se organizam, as entrevistas se marcam, os saldos se equilibram. Os batons, as escovas e as cartas podem ser atirados para dentro das bolsas de mão de qualquer maneira, na reconfortante certeza de que lá se arrumarão automaticamente. Os jardins nunca precisam de ser podados, nem as ervas daninhas arrancadas. As secretárias ficam impecavelmente arrumadas quando o dia chega ao fim. As roupas que à noite se espalham pelo chão aparecem dobradas nas costas das cadeiras pela manhã. As meias perdidas voltam a aparecer.
Quem visitar uma cidade na Primavera depara-se ainda com outra visão de pasmar. É que na Primavera as populações ficam fartas de tanta ordem nas suas vidas. Na Primavera, as pessoas, exasperadas, viram as casas de pernas para o ar. Varrem a poeira para dentro de casa, partem as cadeiras, quebram os vidros das janelas. Em Aarbergergasse, ou noutra qualquer zona residencial, na Primavera, só se ouve o tilintar de vidros partidos, gritos, berros, gargalhadas. Na Primavera, as pessoas encontram-se sem hora marcada, queimam as agendas, deitam fora os relógios, bebem pela noite dentro, até ser dia. Este histérico abandono prolonga-se até ao Verão, altura em que todos voltam a si e à ordem estabelecida.
(Lightman, 1999, 43-45)

Excerto de Os Sonhos de Einstein, de Alan Lightman, 6ª Ed., publicado pela ASA, Porto.

Proposta:
Atendendo às tarefas de desenvolvimento (de estudantes universitários, se assim julgar conveniente ou facilitador do raciocínio), de acordo com os trabalhos de Chickering
Comente a importância do tempo, da ordem, das "agendas", da rotina, do atrevimento, da insatisfação, da ruptura.