quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Os Sonhos de Einstein

11 de Maio de 1905
Quem passar por Marktgasse depara-se com uma visão de pasmar. As cerejas rigorosamente alinhadas, fila a fila, nos expositores de frutarias, os chapéus esmeradamente empilhados nas chapelarias, as flores dispostas nas varandas em perfeita simetria, nem uma só migalha no chão da padaria, nem uma gota de leite nos ladrilhos da leitaria. Nada está fora do lugar.
Quando um grupo de amigos sai de um restaurante, a mesa fica mais irrepreensivelmente posta do que antes do jantar. Quando a brisa sopra suavemente, as ruas ficam varridas, o lixo e a poeira são empurrados para os limites da cidade. Quando as ondas se abatem sobre os rochedos, a falésia reconstrói-se por si mesma. Quando as folhas caem das árvores, dispõem-se no chão em V como um bando de aves migratórias. Quando as nuvens desenham caras no céu, as caras não se desfazem. Quando um cachimbo enche de fumo uma sala, o fumo retira-se para um canto, deixando o ar respirável. As varandas pintadas e expostas ao vento e à chuva tornam-se mais reluzentes com o tempo. O ribombar do trovão faz o jarro partido tornar à sua antiga forma, os cacos saltam para os sítios que lhes cabe, onde se encaixam e unem. A fragrância que se eleva de uma carroça que passa carregada de canela, longe de se dissipar, intensifica-se com o tempo.
Parecem estranhas estas ocorrências?
É que neste mundo a passagem do tempo traz uma intensificação da ordem. A ordem é a lei da natureza, a tendência universal, a directiva cósmica. Se o tempo é uma seta, essa seta aponta para a ordem. O futuro é um padrão, uma organização, uma união, uma intensificação; o passado, um mero acaso, uma confusão, uma desintegração, uma dissipação.
Dizem os filósofos que sem a existência de uma tendência para a ordem, o tempo não teria qualquer significado. O futuro não se distinguiria do passado. As sequências de acontecimentos não passariam de outras tantas cenas aleatórias extraídas de mil romances. A história seria imprecisa como a neblina que envolve as copas das árvores ao entardecer.
Num mundo assim, os que têm as casas desarrumadas deitam-se simplesmente na cama, à espera que as forças da natureza lhes varram a poeira do peitoril das janelas e lhes alinhem os sapatos nos roupeiros. Os que têm os negócios desarrumados podem divertir-se em alegres piqueniques enquanto as suas agendas se organizam, as entrevistas se marcam, os saldos se equilibram. Os batons, as escovas e as cartas podem ser atirados para dentro das bolsas de mão de qualquer maneira, na reconfortante certeza de que lá se arrumarão automaticamente. Os jardins nunca precisam de ser podados, nem as ervas daninhas arrancadas. As secretárias ficam impecavelmente arrumadas quando o dia chega ao fim. As roupas que à noite se espalham pelo chão aparecem dobradas nas costas das cadeiras pela manhã. As meias perdidas voltam a aparecer.
Quem visitar uma cidade na Primavera depara-se ainda com outra visão de pasmar. É que na Primavera as populações ficam fartas de tanta ordem nas suas vidas. Na Primavera, as pessoas, exasperadas, viram as casas de pernas para o ar. Varrem a poeira para dentro de casa, partem as cadeiras, quebram os vidros das janelas. Em Aarbergergasse, ou noutra qualquer zona residencial, na Primavera, só se ouve o tilintar de vidros partidos, gritos, berros, gargalhadas. Na Primavera, as pessoas encontram-se sem hora marcada, queimam as agendas, deitam fora os relógios, bebem pela noite dentro, até ser dia. Este histérico abandono prolonga-se até ao Verão, altura em que todos voltam a si e à ordem estabelecida.
(Lightman, 1999, 43-45)

Excerto de Os Sonhos de Einstein, de Alan Lightman, 6ª Ed., publicado pela ASA, Porto.

Proposta:
Atendendo às tarefas de desenvolvimento (de estudantes universitários, se assim julgar conveniente ou facilitador do raciocínio), de acordo com os trabalhos de Chickering
Comente a importância do tempo, da ordem, das "agendas", da rotina, do atrevimento, da insatisfação, da ruptura.

13 comentários:

Anónimo disse...

Os trabalhos de Chickering apontam para o desenvolvimento psicossocial do jovem adulto, em que o ensino superior deverá facilitar o seu desenvolvimento global: valores, competências sociais, equilíbrio afectivo-emocional, mais do que procurar promover apenas a transmissão de conhecimentos e o desenvolvimento cognitvo. Este desenvolvimento psicossocial assentará numa estrutura de 7 vectores (desenvolver a competência, dominar as emoções, desenvolver a autonomia, desenvolver as relações interpessoais, desenvolver a identidade, desenvolver ideais e metas e desenvolver a integridade), processando-se através de ciclos de diferenciação e integração.

Então, a que nível é que poderá integrar-se os conceitos tempo, ordem, agendas, rotina, atrevimento, insatisfação e ruptura, nessas mesmas tarefas de desenvolvimento psicossocial do jovem adulto?

Na minha opinão, as “agendas”, a ordem e a rotina, serão importantes para estabelecermos os nossos objectivos, mediante a “hierarquização de objectivos de vida”, estabelecido por CHICKERING. É partir daí que nos organizamos e nos distribuímos pelo tempo que temos, construindo processos pessoais e/ou de vida, segundo uma maneira viável de enfrentarmos com sucesso as mudanças e desafios colocados durante o seu curso. Essas mudanças serão apresentadas pela ruptura da rotina, que, a princípio, poderão trazer-nos insatisfação, pela alteração do curso das coisas. É preciso termos o atrevimento de “desarrumarmos” a ordem, antes estabelecida, reorganizar as agendas e, novamente, hierarquizar valores e objectivos. Aí, a ordem volta estabelecer-se, tudo volta ao sítio, até ao ponto em que haverá a necessidade de rompermos, novamente com a ordem, quando mais nada de novo nela encontramos, provocar uma ruptura, e da insatisfação, renovar a satisfação.


(Não sei se era bem isto!)

(Catarina Mendes Portela, nº 20051671)

Anónimo disse...

Acrescento, que a fuga das rotinas, ou seja, a ruptura daquilo a que estamos habituados a fazer e a refazer, nos mesmos moldes, através da obrigatoriedade da ordem das "agendas" também funciona como um factor de DESENVOLVIMENTO.

Ao "atrevermo-nos" a fazer as coisas de maneira diferente, estamos a descobrir novos métodos, e novas maneiras de funcionarmos.

Como diz Nils Kjaer: "Aquele que se perde é que encontra novos caminhos" (no sentido em que que "perder", será aqui enveredar por outros caminhos, que não os mesmos de sempre - os tais da rotina).

E, ainda, segundo Chickering, "a rotina afecta a qualidade".

éme. disse...

"Nunca perguntes o caminho a quem o conhecer, pois assim não te poderás perder."
Aforismo Judaico

"Cortaram os trigos. Agora a minha solidão vê-se melhor."
Sophia de Mello Breyner Andresen


Arthur Chickering apresentou-nos sete vectores (linhas de força, como na física) que endereçam o desenvolvimento. Sim, a Cat apanha-as bem e resume num instantinho as guias de cada uma dessas forças. Habituámo-nos desde sempre a assumir, na ideia de competências, os aspectos intelectuais e os físicos... já os sociais, ainda que também se "aceitem" e percebam como competências, não são tão imediatamente reconhecidos. Passando daqui para as questões da emoção ou dos afectos, de acordo com o autor, o que importa é a consciência crescente dos próprios sentimentos e o como expressar o quê e para quem... paro por aqui! E penso no tempo que temos para dedicar ao cuidado dos outros, ao cuidado de nós, ao cuidado do cuidado, dos afectos, do que sentimos e se nos damos (ainda) permissão para sentir... as pessoas têm cada vez mais pressa, cada vez mais vidas reguladas por agendas que deixam para planos pouco notórios os sentimentos, os afectos, os cuidados e os atrevimentos de sentir insatisfação por algo mais que não seja o que ao trabalho respeita.
Será?
Mas Chickering também alerta para a incontornável necessidade de reconhecermos a nossa própria autonomia, de a criar, de a vivenciar... como? Pela maior e mais complexa grelha de estratégias pessoais de resolução de problemas, pela gradual e cada vez mais notória capacidade de nos focalizarmos em objectivos por nós mesmos definidos; pela persistência! E, de novo uma dúvida profunda ataca as minhas seguranças: como persistir? Como persistir e resistir se tantas alternativas nos chamam logo ali ao lado? Se podemos, persistindo, deixar de reparar numa outra possibilidade que surgisse ali bem perto?... e esta ideia desviada faz-me lembrar coisas que li há muito... de Max Pagès... (o que me dará espaço para mais um post a propósito de tudo e coisa nenhuma!)
Chickering leva-nos numa viagem a caminho da definição clara da identidade, implicando a estabilidade pessoal e a impressão de integração... a ideia de estarmos completos connosco mesmos (e isto lembra-me também afirmações do John Lennon e daquilo que nunca ninguém nos ensinará e que, pelo contrário, nos hão-de fazer crer que é tudo ao contrário).
De acordo com o autor, poderemos encontrar expressões de liberdade e nela a possibilidade de nos envolvermos em relacionamentos interpessoais plenos. Arriscando-nos? Sim, claro! Direi mesmo que não se poderá falar de relação sem risco, de entrega sem ganho, de permanência sem crescimento... e penso na ideia de rotina que ali propunha... e penso na ideia de quebra de rotina que tanta gente julga ser modo único de salvar relações. E não sei. Não sei se não será urgente encontrar "aquela" rotina que nos encha as medidas, que nos agasalhe os dias, que nos transporte em serenidade de um dia ao outro, de uma conquista a nova glória...
:)
Porque é em busca de Um Propósito, do Sentido da Vida, que nos encaminhamos nessa que é a nossa vida digna de lembrança... como diz aquela frase da sabedoria chinesa: "todos temos cem vidas mas, só uma merece ser lembrada. Esta pode ser a tua! Não a desperdices..."
E como levar a Vida, de forma por nós sentida digna, sem atender ao sistema de valores que sejam congruentes com as nossas acções? Impossível, não? Então esta será, possivelmente, uma das tarefas mais complexas e longas da existência humana, não? Encontrar um sistema de valores que nos sejam próprios, tão pessoalmente escolhidos/assumidos que valores e pessoa se confundam num só.

Conseguiremos? Sim, claro que sim.
Basta o atrevimento necessário e ousar ser fiel a quem desejamos ser e
Sê-lo!

Juhaninha disse...

Conforme solicitado, deixo aqui alguns fragmentos do meu comentário.

O excerto retrata uma cidade perfeita, em que as pessoas não precisam de ser responsáveis por nada, pois o mundo encarrega-se de organizar as suas vidas. Podemos considerar esta utopia o sonho do sujeito, pois sente a necessidade de descansar e de aproveitar a vida sem horários nem preocupações. Mas, esta cidade não passa de um sonho, pois a vida real é bem diferente e quem quer viver bem em sociedade e realizar-se profissionalmente tem de trabalhar bastante e ter uma vida organizada.
De facto, a rotina é importante na vida das pessoas em termos de organização, de estruturação, para as pessoas fazerem a tempo os seus afazeres. Para se ser um bom profissional é necessário um bom nível de organização, bem como o cumprimento de rotinas. Mas, não só a nível profissional a organização é importante. Se combinamos encontrarmo-nos com amigos, a marcação tem de ser feita atendendo às tarefas que temos para fazer e ao tempo de que dispomos para estar com aquelas pessoas, arranjando uma hora que convenha a todos. O homem tem uma capacidade exclusivamente humana, que é a capacidade de planear e reflectir sobre o futuro, por isso nas relações há um conjunto de suposições que estamos constantemente a fazer.
O tempo é uma forma de organizar o dia. É útil para as pessoas se encontrarem e é uma forma de estruturar horários de trabalho, reuniões, eventos - importância das agendas. A celebração de determinados compromissos/relações ao longo do tempo, por exemplo anos de namoro e casamento, bem como datas significativas (aniversários, dia da mãe e do pai, dia dos namorados) é extremamente usual na nossa cultura. Mas, algumas destas datas, há uns anos, não eram sequer celebradas. Actualmente, são datas muito importantes e quando alguém significativo se esquece de uma delas, isto é encarado com tristeza e mágoa. Daqui se denota a importância das datas e do tempo. De facto, a passagem do tempo não é um acto simples, pois o ser social conotou essa passagem de diversos modos, através das celebrações mencionadas e do estudo dos acontecimentos relevantes para as determinadas épocas históricas, como se o tempo pudesse ser dividido em partes.

Imaginemos, agora, que a nossa vida se transformaria na do conto, em que não precisávamos de arrumar nem planear, e em que podíamos estar sempre divertidos e alegres. O tempo é apenas dedicado a brincadeiras e passeios, e não há lugar para aborrecimentos nem stresses. O que haveria de excitante na nossa vida se era sempre a mesma coisa? Quais seriam os nossos objectivos, para além do divertimento? É que, depois de algum tempo, sempre a mesma rotina cansa. O descanso e o divertimento deixando de ser um espaço circunscrito a um momento de pausa, de recompensa por um dia ou semana de trabalho, deixavam de ter o mesmo valor que damos agora e deixávamos de ansiar por esses momentos. Por tudo isto, apercebemo-nos que a vida tem de ter uma dose de divertimento aliada a uma profissão, para nos sentirmos úteis na Sociedade. Devemos ter responsabilidades e cumprir horários, para, quando tivermos umas férias, elas poderem ser apelidadas de “as merecidas férias” e estas terão um sabor muito melhor.

Liliana disse...

Chickering apresenta-se como o autor que teve o maior impacto ao nível da investigação produzida acerca do desenvolvimento do estudante do ensino superior, bem como no desenvolvimento de programas e de serviços de apoio ao estudante. De acordo com este autor, a frequência no ensino superior consiste num período de desenvolvimento próprio, onde o fundamental é o desenvolvimento da identidade.
Para além disso, concebe o desenvolvimento psicossocial numa sequência de sete vectores (desenvolver o sentido de competência; gerir emoções; desenvolver a autonomia em direcção à interdependência; desenvolver a identidade; desenvolver as relações interpessoais; desenvolver o sentido da vida; desenvolver a integridade). Neste sentido, mais do que promover a aprendizagem e o conhecimento cognitivo, o ensino superior deve facilitar todo o desenvolvimento do estudante universitário. Chickering refere que os vectores pretendem representar “estradas principais que se percorrem e que favorecem a individuação…”
As agendas, a ordem, o tempo, a rotina são, a meu ver, fundamentais na organização do nosso dia a dia, e consequentemente na organização dos nossos objectivos de vida hierarquizados por Chickering. Permitem-nos saber o que é necessário e importante fazer a seguir para alcançarmos aquilo que temos em mente. No entanto, na minha opinião também têm as suas desvantagens, na medida em que fecham as portas para a imprevisibilidade e muitas vezes, para fazermos aquilo que nos apetece que nem sempre é consonante com o que devemos fazer. Neste sentido, é fundamental que cada um de nós possa ter momentos em que esqueça as agendas, a ordem, as rotinas e viva como se não houvesse amanhã. Momentos em que tenhamos o atrevimento para romper com a ordem estabelecida e construir novas agendas, novas rotinas, novos objectivos. Por outro lado, o imprevisível também requer uma preparação, e para se poder lidar com ele, temos de ter em mente os nossos passos rumo ao futuro, os objectivos “agendados”. Estabelecer a ordem novamente e voltar a romper com ela é fundamental para o nosso crescimento, para a construção da nossa identidade, no sentido de podermos definir e redefinir quem somos e o que queremos para a nossa vida.
Por vezes, a ordem altera-se e as rotinas mudam sem que façamos nada ou muito pouco para que tal aconteça. Estas são situações em que temos de ter a capacidade de voltar a colocar tudo “no seu lugar”, situações em que a nossa flexibilidade e capacidade de adaptação se revelam, em que descobrimos novos “eus” e novas formas de funcionamento. A entrada no ensino superior constituiu, provavelmente, para muitos de nós um momento em que tudo se alterou, em que nos deparamos com uma realidade completamente nova e em que foi fulcral recorrermos à nossa capacidade de adaptação. No entanto, nem todos passamos por essa etapa de transição da mesma forma. Como refere Pinheiro (2003) para alguns estudantes a entrada no Ensino Superior pode constituir um desafio, pode ser a grande oportunidade para alcançar autonomia e competências numa determinada área científica, mas para outros pode ser uma “missão impossível” da qual faz parte um curso do qual não se gosta, um convívio social que não se aprecia, um conjunto de competências de estudo que não resultam e um sentimento de solidão. Como refere Chickering “o impacto das experiências depende das características do indivíduo sujeito à experiência”.

Agora pergunto-me, o que é melhor? viver a vida "agendada" sabendo sempre o que se espera do dia a seguir? viver a vida sem rotinas, fazendo apenas o que nos apetece? viver, como na história, à espera que a vida resolva tudo por nós? encontrar um meio termo? e qual é esse meio termo? qual a estação do ano que os personagens mais gostavam? a Primavera? as outras?............ talvez existam na vida momentos para tudo........

Jorge disse...

Quando falamos em desenvolver competências de um modo integral, estamo-nos a referir às competências intelectuais, às físicas e às interpessoais. As competências intelectuais são aquelas que são mais valorizadas no tipo de ensino formal. Na nossa opinião, podemos relacionar esta competência com a capacidade de análise, síntese, compreensão de informação… estas competências necessitam de se desenvolver com o tempo, sendo necessária uma certa ordem, cumprir “agendas”. No entanto, para conseguir ter pensamento criativo, para ter capacidade de escuta, cooperar, trabalhar em grupo, relacionar-se com os outros… temos de nos atrever a “desafiar” aquilo que nos é pedido… para além da ordem e do tempo que implicam este tipo de “tarefas”.


À medida que o tempo vai passando, vamo-nos tornando mais independentes emocionalmente… mais independentes instrumentalmente. A independência remete para a autonomia e poderá ser entendida como a ruptura, o atrevimento, o expressar livremente as nossas convicções e resolver os nossos problemas de forma autodirigida. No entanto, esta autonomia é desenvolvida em direcção à interdependência… o que implica uma compreensão do poder das nossas acções nos outros e compreensão dos relacionamentos baseados na honestidade e consideração incondicional. Refira-se que, na nossa opinião, o “desenvolvimento em direcção à interdependência” implica uma ruptura e um atrevimento e também uma tendência para ordem. Apesar de nos atrevermos necessitamos de nos submeter a uma ordem para que possamos viver em sociedade…caso contrário tudo seria um caos.


Quando estabelecemos relações com os outros temos de saber respeitar as diferenças, desenvolver relações de intimidade. Por vezes, o que falta é a vontade de atrevimento de um estabelecimento de compromisso, tendo como base a honestidade e a consideração incondicional. Partindo desta ideia, é preciso o atrevimento para criar rotinas e para criar a ordem.


No desenvolvimento da identidade tem que haver uma certa ordem e ruptura ao mesmo tempo. Quando falamos, por exemplo, na articulação entre papéis sociais e estilos de vida é normal que tenha que haver uma certa ruptura, um certo atrevimento para “mudar e reestruturar” alguns papéis e para mudar o estilo de vida, sempre com vista a restabelecer mais tarde a ordem estabelecida, a estabilidade e integração pessoal.


A descoberta dos nossos interesses e dos nossos objectivos consegue-se através do tempo. No entanto, esta ideia de tempo não invalida a necessidade de um certo atrevimento para desenvolvermos um sentido de vida e agirmos em conformidade com as nossas escolhas pessoais. Assim, tem que existir uma ordem entre aquilo que dizemos e aquilo que fazemos Ou seja, congruência entre as escolhas pessoais e o comportamento manifestado.


Face ao exposto, julgamos ser de extrema importância o jovem adulto desenvolver a sua dimensão existencial, isto é, aquisição de competências que permitam o estabelecimento do sentido da sua identidade. Esta ideia de identidade pode ser definida como a “permanência dos objectos ou conteúdos da consciência ao longo do tempo. É a persistência coerente e fiel da pessoa a si mesma, como unidade vivente distinta e diferente dos outros, não obstante as modificações operadas ao longo da sua existência e do ambiente que a rodeiam” (De Pieri, 1992, 496).

Jorge Martins
Mariana Coelho

angela disse...

A alegoria do texto leva-me a reflectir sobre o que andaríamos aqui a fazer, que sentido daríamos à vida se tudo se fizesse por si. Caso fosse assim o que haveria de novo no mundo?
E se passagem do tempo em vez de trazer a intensificação da ordem, trouxesse a incerteza, desordem, atrevimento e insatisfação?
Quando nascemos temos o mundo à nossa frente, temos a exploração dele a nosso cargo, mas então porquê que com o passar do tempo deixamos de querer inovar, explorar, lutar, e "virar as casas de pernas para o ar"?
Parece que com o passar do tempo vamos perdendo a esperança, os sonhos, e entramos na rotina...ficando à espera que tudo se componha por si...
De facto, o ensino superior deverá ser uma forma de voltarmos a lutar e a sonhar como anteriormente, deveríamos ter sonhado, aqui encontramos rotinas, tarefas e a ordem que, será importante no nosso desenvolvimento global. Esta ordem pode levar alguns à inovação e ao atrevimento, outros por sua vez, à ordem e à rotina. Ter um pouco dos dois, a meu ver, facilitaria o desenvolvimento...a vida é daqueles que se atrevem e ousam e lhe dão "o seu sentido da vida".
Ângela Teixeira_20051639

Sara disse...

Tempo – adereço humano;

Nada – conjunto de incógnitas.

Construímos, vivemos, analisamos, sonhamos e reconstruímos o TEMPO. Somos um jogo antigo, com os devidos upgrades. A essência é sempre a mesma: buscamos ou ignoramos o “nada” que nos vibra. Cegos, erramos e aprendemos que há mais, muito mais! A INSATISFAÇÃO incita em nós esta vontade incessante de nos descobrirmos e irmos mais além.

De forma idiossincrática conseguimos por vezes, parar, olhar e sentirmo-nos mais próximos da nossa verdade, do nosso vazio cheio de movimento. Somos um ser que procura (1) compreender o sentido da sua existência (Frankl, 1984), (2) refinar a autenticidade da relação consigo próprio e com os outros (Bugental, 1978), (3) superar os dilemas, tensões, paradoxos e desafios do viver (Van Deurzen-Smith, 2002), (4) promover o encontro consigo próprio para assumir a sua existência, projectando-a no mundo (Villegas, 1989) e (5) aumentar a auto - consciência, aceitando a liberdade e sendo capaz de usar as suas possibilidades de existir (Erthal, 1999). O ATREVIMENTO é crucial para esta a consciencialização. Oferece-nos a responsabilidade de escolhermos a nossa Vida.

Por outro lado, torna-se claro que o ritmo superficial da nossa vida adicta, em sociedade, atropela o desenvolvimento de tarefas desenvolvimentais. Num jogo de Ter e Ser, vivemos num constante corrupio, condenados “às AGENDAS”. Assim, enquadrados no Existir por vezes, nauseabundo, seguimos a ORDEM até encontrarmos a desordem. Deste (des)equilíbrio surge o existir em acção. Da RUPTURA com o adquirido, emergem novos caminhos, novos desafios.

Neste cenário, com a entrada em vigor do “processo de Bolonha” e a respectiva reformulação dos ciclos de estudo no Ensino Superior, urge cada vez mais, de acordo com Chickering, um espaço onde tenha lugar o desenvolvimento global do estudante (valores, competências sociais, equilíbrio afectivo-emocional) e não apenas onde se promova a transmissão de conhecimentos e o seu desenvolvimento cognitivo.

Assim, ser autêntico, ter sucesso académico, planear para o futuro, desenvolver uma identidade, gerir o tempo e emoções entre a vida académica e social, assenta no atrevimento de explorar a relação consigo próprio e/ou com o mundo, sendo fiel a um código pessoal de integridade.

Em termos metafóricos, podemos constatar que na Pedra Filosofal, o sonho comanda a vida, em concomitância o tempo, comandará o sonho num complexo percurso de diferenciação e integração do ser Humano em geral, e das suas transições, em particular. O Santo Graal será neste sentido, o propósito da vida de cada um.

Sara Oliveira

Anónimo disse...

“Os indivíduos não crescem sem desafios” (Ferreira e Hood, 1990)

Quando li este excerto pela primeira vez, principalmente, os primeiros parágrafos, senti-me incomodada. Pessoalmente, gosto da ordem e da organização mas na medida e peso certo. Neste caso, parece-me exagerada e impede a coragem de arriscar, de fazer diferente e de romper com o estabelecido…e é isso que dá cor à nossa vida! É necessário arriscar e apresentar uma postura de insatisfação, querer mais, procurar mais e partir rumo ao infinito e desconhecido…
Se a nossa vida fosse tão linear e organizada como “As cerejas rigorosamente alinhadas, fila a fila, nos expositores de frutarias, os chapéus esmeradamente empilhados nas chapelarias, as flores dispostas nas varandas em perfeita simetria, nem uma só migalha no chão da padaria, nem uma gota de leite nos ladrilhos da leitaria”, deixaria de ter interesse para nós. São as surpresas, os obstáculos e os desafios que nos vão surgindo ao longo da vida que nos permitem ter força para continuar, dão sentido à nossa vida e permitem-nos crescer e evoluir…

À medida que vamos crescendo, surgem diversas tarefas que nos permitem atingir um patamar superior e desenvolver. De uma forma geral, as tarefas que se impõem para o nosso desenvolvimento são a construção da identidade, da personalidade e o desenvolvimento das dimensões física, sócio-cognitiva e afectiva. Tudo isto envolve processos complexos e multifacetados (Sprinthall & Collins, 1999, cit in Pereira, 2006).
Neste sentido, Chickering refere que a principal tarefa do jovem adulto consiste no desenvolvimento da identidade (Chickering, 1969; Chickering & Reisser, 1993, cit in Ferreira & Ferreira, 2001) sendo que para tal contribui grandemente as experiências.
Este autor (1993) refere ainda que o desenvolvimento psicossocial do indivíduo ocorre segundo uma sequência de sete vectores – 1) desenvolver o sentido da competência; 2) gerir as emoções; 3) desenvolver a autonomia em direcção à interdependência; 4) desenvolver as relações interpessoais; 5) desenvolver a identidade; 6) desenvolver o sentido da vida; 7) desenvolver a integridade – em que a resolução das tarefas de desenvolvimento próprias de um vector, preparam o indivíduo para as tarefas seguintes, inerentes a outro vector (Ferreira & Ferreira, 2001).

O tempo é transversal e fundamental em todos os vectores apresentados por Chickering uma vez que nós precisamos de tempo para adquirir, ensaiar e desenvolver competências, experiencias, segurança, estabilidade, autonomia e interdependência…
O tempo apresenta prós e contras sendo que, eles mesmos, podem ser interpretados de múltiplas formas. Por um lado, permite o aperfeiçoamento (“As varandas pintadas e expostas ao vento e à chuva tornam-se mais reluzentes com o tempo”), a mudança e, por outro, estabelecem a rotina, o conhecido e a ordem. Portanto, permite a aquisição de novos conhecimentos e competências que nos tornam seres mais completos mas, ao estabelecer a rotina e a ordem torna as coisas demasiado previsíveis e aborrecidas…sabemos o que pode acontecer! Como nós, seres humanos, somo seres insatisfeitos e, em grande parte, dominados pela curiosidade face ao desconhecido, sentimos necessidade de romper com o estabelecido…
É isso que se encontra explicitado no texto…a nossa vida é, normalmente, dominada pela rotina, por tarefas agendadas consoante a nossa disponibilidade e tempo mas, surgem alturas em que o Homem se atreve a romper com o estabelecido e procura algo novo… “É que na Primavera as populações ficam fartas de tanta ordem nas suas vidas. Na Primavera, as pessoas, exasperadas, viram as casas de pernas para o ar”…apesar de, depois, voltarem à ordem, rotina e agenda habitual! Mas naquele momento sentiram-se felizes uma vez que são livres!
A nossa vida presa a uma rotina, ordem e agenda pode ser encarada como a vida de um pássaro na sua gaiola. Só quando este se consegue libertar é que consegue ser verdadeiramente feliz…
É importante sabermos “o que é que vamos ser” e “para onde vamos” para estabelecermos os nossos objectivos e sentido para a vida mas não podemos programar tudo. Por vezes temos que nos deixar dominar pela imprevisibilidade para sermos verdadeiramente livres…

"A vida é, por excelência, o maior imprevisto, se não fosse que graça teria?"

(Catarina Feliciano, nº20051672)

Unknown disse...

“Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.”
Excerto de: A Tabacaria, Álvaro de Campos

Fernando Pessoa, dividido na sua genialidade em muitos heterónimos, deixou como legado inúmeros escritos que tão bem podem ser aplicados a qualquer realidade. Basta descortinar - ou tentar fazê-lo - as suas ideias em cada um dos seus versos, e perceber que tudo o que diz é conhecimento, é saber, é ciência. Um homem na vanguarda do seu tempo, que permite dar azo a inúmeras interpretações. Por tudo isto, não seria difícil aplicar o que aludiu ao que hoje em dia estudamos.
Ao ler estes versos, percebi que, ao contrário do que muitos ambicionam, torna-se inexequível e irrealizável conhecer tudo, ter a experiência de tudo aquilo que nos rodeia. Porque tudo é muita coisa, e mesmo com todas as ferramentas ao nosso dispor, é delicado chegar mais além.
É impressionante como ao longo dos anos fomos conhecendo inúmeras existências e realidades que pareciam inalcançáveis. Onde iremos parar? Mesmo com todos os avanços, o mundo continua “opaco” e “alheio”, com tanto para descobrir e descortinar, com o “indefinido” ainda por definir. Não tardará para mais conhecimentos nos assombrarem e para percebermos que somos uma pequena parte dentro de um planeta Terra, de uma Via Láctea e de um Universo imensos. Assim, e porque, tal como já referi, é impossível conhecer tudo, é preciso ter Humildade Científica e perceber que a melhor forma de alcançarmos um saber maior, é ter uma atitude de multidisciplinaridade que, desde logo, permita investigar os pontos de diferença, porque é nessa diferença que se gera novo conhecimento.
Sendo nós estudantes em formação, devemos fazer uma busca insaciável de infinito para que, mais facilmente, possamos atingir a nossa plenitude. No entanto, devemos ter sempre em conta que essa estará longe do conhecimento inteiro.
Vamos ser sempre seres em construção, tanto de nós mesmos, como da nossa realidade envolvente, que nos vai transmitindo significados que nos permitem a interpretação de tudo o que existe, dando-nos igualmente informação acerca do caminho que devemos seguir e da porta que devemos abrir.
Assim, temos momentos marcantes na nossa vida, tanto pessoal como académica ou profissional, que vão contribuindo para as nossas vivências, para o nosso brasão pessoal, que nos transmitem a nossa identidade, a nossa liberdade! Conforme o nosso passado e presente, também podemos formar as nossas expectativas de futuro, aquilo que ansiamos atingir, mas que tantos receios e angústias nos acarreta do desconhecido.
Tudo o que nos rodeia contribui para a nossa construção pessoal que visa o conhecimento, o saber, a formação do nosso sistema. Todos temos um brasão pessoal que, em junção com outros brasões, se vai moldando numa lógica de cumplicidade, de humildade e modéstia, para um saber maior e mais repleto de histórias.
Os seres humanos vivem em constante co-construção, sendo na relação com o outro, e na diferença existente entre ambos, que se vai evoluindo e aprendendo cada vez mais. Porque o Homem não é igual em todo o seu esplendor, porque é díspar em toda a sua essência, torna-se importante reconhecer a grandiosidade de narrativas que se podem absorver de uma mesma situação; daí a importância, mais uma vez, da ideia de humildade, em que reconhecemos que não sabemos nada, nem nunca saberemos nada, mas que temos em nós um conhecimento infinito, e uma capacidade de diariamente sonhar e experimentar sobre coisas novas, sempre em auto-construção.
Nesta minha breve análise, podem ser visíveis as ideias de tempo, uma vez que é ele o principal responsável transformador das realidades envolventes; da ordem, pois é através de si que podemos descobrir a auto-construção, que visa sempre a neguentropia, (organização da informação em nova informação); da rotina, que muitas vezes é a responsável por ficarmos quietos e calados, escondidos na podridão do que nos rodeia, nunca almejando um novo sentido para a existência; bem como as ideias de atrevimento, insatisfação e de ruptura, porque é através do espírito empreendedor, arrojado, inquieto e incapaz de se restringir ao que já existe, que nos atrevemos, que alcançamos algo maior, que estamos insatisfeitos com o que já existe, com o que já conhecemos, com o que nada de novo nos traz… Daí o sentido de ruptura, através do qual queremos a totalidade, não ficando presos e querendo mais e mais e mais e mais…
Assim, e tal como nos referem Joaquim Armando Ferreira e António Gomes Ferreira (2001), a respeito dos vectores referenciados por Chickering, “o desenvolvimento processa-se em sequências de diferenciação e integração; o processo de integração deverá sempre acompanhar o aumento da capacidade de diferenciação”. Como tal, é em cada vector de desenvolvimento que o sujeito se move através de pequenas diferenciações, com vista a uma maior complexidade, sobre a qual já explanei.
Como disse um dia Fernando Pessoa, “há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”. Também esta reflexão demonstra que não há apenas um caminho, sendo a mudança, o optar por novos caminhos e o observar de novas perspectivas, de extrema relevância para que não fiquemos presos e estáticos àquilo que consideramos ser o mais cómodo (mas que muitas vezes apenas estanca todas as nossas potencialidades esquecidas).
Com a finalidade de chegarmos a um novo ponto de vista, a uma nova narrativa, temos de nos descentralizar de apenas uma história, temos de observar com os dois olhos, para não termos um conhecimento enviesado. Ao observarmos apenas com um olho uma gota de água a cair, perdemos a capacidade de observar o que de mais belo a natureza tem para nos oferecer, e tal não iria passar de mais uma imagem no meio de tantas outras imagens que passariam despercebidas. Então, temos de aprender a olhar para o que nos rodeia como se fossemos artistas, pintores, fotógrafos, tentando sempre ver por outra perspectiva que não a já existente e tida como correcta. Tal como Alan Lightman, neste excerto de “Os Sonhos de Einstein”, que nos faz uma descrição deliciosa, que quase nos transporta para esta cidade onde a ordem e a desordem vivem de mãos dadas, e onde ninguém parece realmente estar importado com o facto de isso ser o certo ou o errado. Porque o que está certo ou errado, é o Homem que assim o denota, e se assim é, então, temos de aprender a ver outra verdade.
Torna-se de extrema utilidade compreender que, em determinados momentos, é fulcral encontrar um novo caminho e realizar, com base nesse acontecimento presente, que até pode parecer desfavorável, uma nova proeza e valentia. É neste sentido que são realizadas as grandes mudanças, que nos trazem momentos em que damos o salto para algo mais fundamental do que aquele que é o momento presente. Pode ser sempre visível a imaginação que colocamos em tantos momentos da nossa vida, que nos permite ver tantas cores além da que parece surgir à primeira vista. Talvez tenha sido nestes momentos que Fernando Pessoa escreveu os versos que tanto nos deleitam actualmente! E talvez seja também nesses momentos que um pintor realiza uma obra-prima que resiste para a eternidade, ou em que um escritor escreve excertos como aquele que, actualmente, nos delicia.
Natália Henriques Antunes, Nº 20051687

puquenina disse...

O existencialismo designa essência como o que nós somos, o que é ser seres humanos. A nossa existência consiste em termos posições absolutas na realidade, sendo que esta cria ou pelo menos modifica a essência. É um dinamismo criador. (Scheeffer, R 1982). A existência é escolha, que deve ser livre. Mas a própria liberdade não é um dado objectivo. O homem é essencialmente livre no sentido de ser capaz de realizar opções das quais resultam o significado da sua existência, aquilo que realmente é - a sua identidade pessoal. Resulta das opções por ele realizadas mas, igualmente, das escolhas sujeitas à limitação do mundo individual. Como refere Arbuckle, o homem livre vive dentro das leis da sua cultura. Ao mesmo tempo, o senso de liberdade implica aceitação de um compromisso perante a vida – responsabilidade – que representa a capacidade de enfrentar a realidade directamente e de responder a ela de forma positiva. À medida que a pessoa se torna capaz de aceitar a responsabilidade ela se torna também moralmente livre. A força motivadora da vida humana é a busca que o homem empreende para dar sentido à sua existência. Para tal, utiliza a autoconsciência de ser o que é no mundo (Thines & Lempereur (n.d.).
Nos sonhos de Einstein, esta aceitação perante a realidade humana está bem patente. Quem disse que a existência de alguém não é fazer exactamente o que é estabelecido? Quem disse que o tem de ser?
Nesta terra, nesta povoação, estes seres humanos tomaram a sua opção, seres iguais na ordem e na desordem. Estarem alinhados na vida, nas fraquezas e nas forças (independentemente, da força ou fraqueza ser ordem ou desordem). Viverem de acordo com a sua “cultura”, com os “costumes” pré-estabelecidos.
Também nós, no dia-a-dia, jovens estudantes universitários, seguimos uma ordem. Estamos formatados de uma tal forma, que uma brecha é vista com desconfiança. A desordem na ordem não é moralmente apoiada, por ir ao desencontro de costumes.
É um desafio. É um desafio desatar as amarras que nos prendem os movimentos. É um desafio em que a força interior não basta. Precisamos de ajuda, apoio, para ultrapassar o desafio.
Como Sanford refere “os indivíduos não crescem sem desafios e o montante dos desafios tolerados será dependente do apoio disponível” (cit in Ferreira, 2001).
E será que temos assim tanto tempo para escolhermos o momento para aceitar o desafio?

"Cada momento, cada segundo é de um valor infinito, pois ele é o representante de uma eternidade inteira". (Goethe)

Será que temos o infinito para provocarmos a mudança, para sermos mais do que a nossa existência supõe que sejamos? Será que temos tempo? Essa sucessão ininterrupta, na qual todas as coisas que a experiência nos mostra nascem, existem e morrem.
Mas a ruptura é assim tão aconselhada? E as responsabilidades? E a moral? Não ter agendas de momentos pode significar não ter agendas de pessoas?! E se errarmos? Mas errar não é humano?
Eu tenho medo de deixar passar o tempo… mas também tenho medo que o tempo passe por mim, e não tenha presa, sorria e me acompanhe ao longo da vida… dizendo “tu tens tempo, paciência, calma!”
Em tudo o que fizeres apressa-te lentamente. (Augusto)

O importante é aprendermos, continuamente… com 20 ou com 80. Darmos por bem gasto o tempo que temos e que não manipulamos, mas que gerimos.

O tempo é o melhor autor: sempre encontra um final perfeito. (Charles Chaplin)

rainbow disse...

Os conceitos de tempo, ordem, "agendas" e rotina alteram-se para os jovens que ingressam no Ensino Superior e mesmo durante o seu percurso académico. Por isso, faz sentido falar da importância destes conceitos numa óptica de desenvolvimento.
A alteração do significado do tempo e dos restantes conceitos é indicador do desenvolvimento por alguns vectores como seja o desenvolvimento de competências (por exemplo, de gestão de tempo, das agendas e das rotinas - agora responsabilidade do jovem) e o desenvolvimento de um objectivo de vida (é nesta fase que, pelo menos profissionalmente, se tomam decisões importantes com consequências no futuro).
No que respeita aos conceitos de atrevimento, insatisfação e ruptura, também estes se relacionam com, pelo menos, um dos vectores - o desenvolvimento da integridade. Neste vector, é importante o estabelecimento de crenças, valores e propósitos próprios mas também a aceitação dos pontos de vista e crenças dos outros para preservar o respeito por si.
Assim, é necessário, para a integridade, o atrevimento de defender os pontos de vista próprios, a insatisfação que leva a um questionamento constante e, muitas vezes, a ruptura que leva ao desenvolvimento.
Conheço um Professor, já jubilado, que um dia me disse que, dos seus alunos, ele não esperava que aprendessem as matérias que ensinava. O seu grande objectivo era que os alunos o ouvissem, pensassem e questionassem o que ouviam. A sua grande tarefa como professor era desenvolver nos alunos a capacidade de questionamento...

Alexandra Macedo (nº 20052645)

Melanie Saraiva (no 20031727) disse...

A teoria dos 7-Vectores de Chickering insere-se nas teorias psicosociais do desenvolvimento, que entendem o desenvolvimento como ocorrendo em fases graduais e sucessivas.
Por isso, as noções de tempo e ordem parecem desempenhar um papel importante nesta teoria.
Como é referido no excerto de “Os Sonhos de Einstein(“ ...sem a existência de uma tendência para a ordem, o tempo não teria qualquer significado”), o tempo e a ordem estão interligadas, isto porque, se a sequência em que ocorrem os acontecimentos não fosse importante, não haveria um conceito de tempo. O tempo define-se como um continuum linear com uma duração limitada de períodos. Isso por sí só já implica mudança e transição. A questão que se coloca é, ao meu ver, o que provoca essa mudança. Existem fases de desenvolvimento ou de mudança na nossa vida que já estão pré-definidas, como por exemplo, a entrada para a escola e a transição de escolas. Nesses períodos, a insatisfação não é o motivador da mudança, mas sim o tempo. Mas existem fases em que nos tornamos conscientes que o rumo que tomamos na vida já não nos satisfaz, que já não tem significado para nos. Nesses momentos torna-se importante arranjar estrategias de resolução de problemas e caso seja necessário deixar a nossa zona de conforto para trás e atrevermo-nos a seguir novos caminhos, escolhendo entre as possibilidades dadas as que nos parecem ser as melhores para nós. Mas estes acontecimentos normalmente só se verificam quando a nossa insatisfação é maior do que o nosso medo. Para sermos bem sucedidos no percurso de novos caminhos e objectivos na nossa vida temos que romper com estructuras velhas e sufocadoras, adoptar uma nova rotina e ser persistentes.

Melanie Saraiva (no 20031727)