quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Vector - Gestão das Emoções

Da Educação pela Arte a uma Ecologia dos Afectos

"... os afectos são modos e figuras das relações que se constituem, estabelecem e exprimem nas diferentes formas de o desejo e o pensamento viverem no corpo e nos sentidos, no mundo físico, social e cultural que estes habitam. ...
Se não dissocio os afectos do pensamento, não os reduzo ao pensamento. O que significa que, se os afectos têm uma dimensão cognitiva, eles ultrapassam essa dimensão pelo menos no que se refere aos limites com que estamos habituados a falar e a  ouvir falar de conhecimento. ...
... (os afectos) definidos simultaneamente como relações, comportam um dinamismo projectivo e uma tensão existencial que o pensamento nem sempre inclui.
...
Invocando-os, entendemos que os afectos são figuras das relações inerentes às formas como o desejo e o pensamento habitam o corpo e os sentidos, que, por sua vez, se inserem num espaço físico, social e cultural que condicionam e que os condiciona. ..."
(André, 1999, 67-68)

Excerto de Pensamento e Afectividade, de João Maria André, publicado pela Quarteto, Coimbra

Proposta:
Atendendo ao vector - Gestão das Emoções, 
Comente a ideia de "gestão" de afectos e/ou emoções partindo da leitura do autor citado.

15 comentários:

Mariana Coelho disse...

Tomando como referência a Ecologia dos Afectos, poderemos identificar dois sistemas que se influenciam mutuamente. O primeiro deles, diz respeito ao sistema afecto – desejo- pensamento. O segundo, refere-se ao sistema "mundo físico, social e cultural".
Os afectos podem ser expressos através da ligação entre o desejo e o pensamento. Na tomada de consciência e na integração dos afectos/sentimentos/emoções tornamo-nos aptos para melhor os aceitar. No entanto, não nos podemos esquecer que o sistema afecto – desejo -pensamento influencia e é influenciado por outro sistema - "mundo físico, social e cultural". É na integração deste dois sistemas que iremos encontrar comportamentos internamente adaptados e ajustados ao que é culturalmente e socialmente aceitável (equilíbrio entre o auto-controlo e a expressão de emoções). Ou seja, aprendemos a controlar as emoções (p.ex. raiva e amor), a reconhecê-las e a canalizá-las de forma apropriada.

Anónimo disse...

Uma das primeiras reflexões que fiz, ao ler as palavras do título "Gestão das Emoções", foi a seguinte. Poderão as emoções ser, realmente, alvo de um acto de gestão? Vejamos...

"DIFICILMENTE GERIMOS AS NOSSAS EMOÇÕES"

A primeira impressão que me surgiu foi que dificilmente poderíamos gerir as nossas emoções, no sentido em que gerir poderá ser um termo usado no sentido de controlar, de escolher o que sentir e quando o sentir. Penso que isso não será possível nem viável, pelo menos na minha óptica. Por exemplo, o amor de amizade que sentimos por um/a amigo/a, deverá ser incondicional. O nosso objectivo em fazê-lo/a sorrir, por exemplo, deverá ser exclusivamente para o ver e fazer feliz e não por estarmos à espera de algo em troca. Aí, penso que as emoções nos brotam de dentro, de maneira não racional, se me faço entender. Quase como que inconscientemente.

"PENSANDO MELHOR..."

Contudo, quanto mais penso no assunto, mais ideias me surgem... Se voltar às palavras do título "Gestão-das-Emoções", e olhar apenas para a palavra "gestão" e pensar no seu significado, consigo ver que "gestão" é um processo que contempla erros, créditos, déficies e por vezes injustiças em nome de um valor mais alto que se levanta e que tem que ser atendido. A gestão de afectos não é diferente. Logo, em certa medida, poderei encarar, sim, as emoções como um acto de gestão, mesmo para um ajustamento saudável para nós mesmos! E de que maneira é que podemos fazer um uso saudável das emoções?...

"ECOLOGIA EMOCIONAL"

...Por exemplo poupando essa mesma energia emocional:

Eleger bem os objectivos e as pessoas em que investimos energia emocional. Não desperdiçá-la, centrarmo-nos naquilo que podemos controlar e melhorar – nós mesmos – ao invés de nos empenharmos em mudar os outros. Para além disto, deveremos tentar evitar agir por coação, por um falso sentido de obrigação, pelo que os outros vão pensar e dizer, ou egoísmo e interesse, mas sim através do coração, do sentimento genuino, por aquilo que há pouco mencionei, sobre ser incondicional, verdadeiro! Desta maneira, se poderei dizê-lo, conseguiremos manter a nossa "sanidade emocional", na relação com os outros, e essa "sanidade emocional" deverá contemplar-nos tanto a nós como às pessoas com quem interagimos. Continuando na perspectiva da ecologia emocional, será possível gerir as nossas emoções, se evitarmos, também, fazer insultos, queixas, juízos de valor e menosprezo, em prol do nosso bem-estar e do que nos rodeiam. Enquanto escrevo, penso na minha própria experiência e, de facto, tenho tentado praticar a ecologia emocional nos aspectos atrás mencionados e também na minha atitude que ultimamente desenvolvi, que é analisar as minhas relações e afastar-me daquelas que considero fictícias, por parte das outras pessoas, e que não acrescentam nenhum bem-estar à minha vida, pelo contrário! É engraçado como a minha ideia inicial, em que considerava que as emoções dificilmente seriam geridas, se começa a esbater! De facto, é mesmo possível gerirmos as nossas emoções, através de uma atitude ecológica emocional.

"DANIEL GOLEMAN"

Segundo Daniel Goleman, o objectivo é o equilíbrio e não a supressão dos sentimentos. Todos os sentimentos têm o seu valor e significado. Controlar as emoções é a chave para o bem-estar emocional. A pedra basilar da inteligência emocional é a auto-consciência, isto é, o reconhecimento de um sentimento enquanto ele decorre. O sentimento desempenha um papel crucial na nossa navegação pelas decisões que temos que tomar. A empatia, habilidade de reconhecer o que os outros sentem, desempenha um papel fundamental numa vasta gama de áreas da vida. Nasce da auto-consciência. Só sendo capazes de reconhecer as próprias emoções seremos capazes de reconhecer as dos outros. E só tendo as habilidades emocionais de auto-controlo e empatia, é que conseguiremos fazê-lo.

"CHICKERING"

Como referi anteriormente, ao ler o texto, reportei-me para alguns autores. O primeiro foi Daniel Goleman e a "inteligência emocional" e a segunda autora foi Chickering e o vector 2, que se refere ao domínio das emoções, no desenvolvimento psicossocial do jovem adulto, que, ainda que não tendo a ver directamente com o texto, remete-nos para o domínio e controlo emotivo. Deste modo, Chickering menciona a consciencialização das emoções, que se refere à identificação das emoções - auto e hetero-conhecimento - e expressão das emoções - ligetimização das emoções; e, ainda, para a integração das emoções, no que diz respeito ao auto-controlo ou libertação das emoções, diferenciação e complexificação dos estados emocionais.

Para concluir, recorro a uma expressão evocada em Hamlet, de Shakespeare, que diz que “There is nothing either good or bad, but thinking makes it so”. As emoções não são boas ou más, assim como os pensamentos e sentimentos. A maneira como interpretamos as coisas e como lidamos com elas é que lhes dá a conotação emocional, aliado ao ambiente em que estamos inseridos, que é condicionado por factores físicos, culturais e sociais, como o próprio texto diz.

As emoções são universais. Todas as pessoas, em todo o mundo, as sentem... Mas não de todas as mesmas maneiras.

As emoções estão na base do nosso relacionamento com os outros. Não são dissociadas do pensamento e, por isso, têm uma componente cognitiva ("Se não dissocio os afectos do pensamento, não os reduzo ao pensamento").

Regressando ao início do meu fio de pensamento e integrando tudo numa nova concepção...as emoções pertencem tanto ao meu coração, ao meu sangue e aos nervos dos meus músculos, assim como eu pertenço a uma cultura, num determinado país, com determinadas pessoas de determinados pensamentos.

Afinal, as emoções tanto têm de espontâneas e incontornáveis, como de condicionáveis pelo espaço físico, social e cultural em que estou!!



(Catarina Mendes Portela, nº 20051671)

éme. disse...

Diz a Mariana que aprendemos a controlar as emoções, a reconhecê-las e a canalizá-las de forma apropriada... ora eu tenho uma dúvida: será que essa aprendizagem acontece assim, de “geração espontânea” ou podia ser “ensinada e aprendida” se houvesse forma humana de o fazer? Quero dizer, será que todos vamos sendo gradualmente mais capazes de ajustar os nossos afectos? E, a ser assim, como é que se “mede” essa competência? (será que posso chamar-lhe competência?)


Diz a Cat que a gestão das emoções lhe parece coisa difícil e fala do amor incondicional da amizade... e de seguida fala de poupança da energia emocional... o reconhecimento de um sentimento e a ideia veiculada por Shakespeare “There is nothing good or bad but thinking makes it so”...
Em simultâneo, as emoções circunscrevem-se ao mundo em que vivemos, experimentam-se no mundo que nos é familiar, que nos rodeia. Condicionam e são condicionadas pelas nossas circunstâncias...
Na verdade, a Catarina diz que o que importa para o equilíbrio de cada indivíduo é a possibilidade de bem experienciar as suas emoções e isso é tão mais conseguido quanto melhor dirigir a energia dos afectos para alvos que retornem em igual intensidade.
Creio que sim, claro... mas, digam-me, como é que cada sujeito sabe fazer essa escolha? Como é que cada indivíduo sabe a quem dirigir o seu melhor afecto? Como é que se aprende? Será que se aprende?...

...
Vou deixar um post sobre estas coisas dos afectos! :)

Anónimo disse...

Penso que o sujeito, em qualquer domínio da sua vida, se treina, mediante a experiência de tentativa e erro, que traz o sentimento de realização ou frustração, e o mesmo se passa com a escolha das emoções e a quem as dirigimos.
Nós podemos e devemos sentir todas as emoções, pois isso faz de nós seres saudáveis. Aquilo a que deveremos atender, é a nossa reacção a essas mesmas emoções, que se traduzem em comportamento, e que poderão fazer o melhor ou o pior por nós. Se isto é alvo de aprendizagem, penso que se reporta à nossa infância quando os nossos pais nos ajudavam a regularizar as nossas emoções, ajudando-nos as conter e a perceber a melhor forma de nos comportarmos.

Considero que essa aprendizagem continua a processar-se pela vida toda, na medida em que estamos sempre a conhecer pessoas novas e diferentes personalidades e atitudes de comportamento. Logo, penso que aí poderemos dizer que aprendemos a gerir as nossas emoções nas interacções sociais.

Se a isso se pode chamar aprendizagem? Penso que sim, se considerarmos que nas tais tentativas e erros nos apercebemos como devemos e não devemos gerir as emoções, consoante a situação, o contexto, e as pessoas com que lidamos...!

Quanto ao sabermos a quem dirigir o nosso melhor afecto, algumas vezes poderemos não receber o feedback desse investimento, mas no geral penso que deveremos fazê-lo consoante aquilo que sentirmos intrinsecamente, dentro de nós.

Intuitivamente, será algo que saberemos.
Afinal, a intuição é, ou não é, por vezes, a nossa melhor aliada? ;)

MAS, será essa intuição completamente intuitiva ou terá uma componente de aprendizagem??

éme. disse...

Não sei se a intuição é a nossa melhor aliada... aliás, sei demasiado pouco sobre a intuição. :)
Agora, reconheço claramente essa outra ideia de aprendermos, por tentativa e erro, a gerir afectos! Claro!
Se há aspecto humano que se desenvolve por essa via de aprender, é, sem dúvida, o que respeita ao afecto e à direcção e alvo que perspectivamos para os nossos afectos.
A minha pergunta, por causa destas leituras, também, é esta: será que poderíamos encontrar estratégias de aprendizagem/ensino da gestão dos afectos?... Será? E a ser possível, constariam de quê? Como fazer? Será que, por exemplo, através da experiência regular de contacto com as diferentes formas de arte, poderíamos promover o desenvolvimento harmonioso da personalidade e nele, por inerência, a mais saudável vivência dos afectos, das emoções e da sua expressão?

Patrícia disse...

Os afectos são intrínsecos ao ser humano e, de facto, considero que podem aprender a ser geridos (tal como referiu a Cat) pela interacção que estabelecemos com os outros. Estão directamente relacionados com mundo físico e com o pensamento. O ser humano vai aprendendo a ajustar os seus afectos àquilo que é esperado e que é socialmente correcto. Se por ex., num ataque de fúria me apetecer gritar dentro um centro comercial todos vão julgar que sou maluca – pois deveria saber gerir o que estou a sentir, sem ser necessário expressar dessa maneira.
Os afectos são uma forma de comunicarmos com os outros e connosco próprios. Podemos aperceber-nos do que o outro está a sentir pela forma como fala, como mexe, pelo olhar… Aprendemos também e a conhecer as reacções do nosso corpo e a controlá-las. Os afectos são um indicador de que nós SENTIMOS. Considero que falar de afectos é falar da relação. A relação implica uma troca, em que se dá e se recebe, o que envolve sempre modificação dos elementos envolvidos. Nestas relações somos afectados pelos outros e afectamo-los.
Os afectos que se estabelecem constroem a matriz da nossa vida pessoal e podem exprimir-se pelo amor mas também pelo ódio. A nossa sobrevivência funda-se nas relações interpessoais.
Em relação à questão das estratégias de aprendizagem para melhor gerir os afectos acredito que seria possível encontrar essas estratégias de forma a tornarmo-nos pessoas mais adaptativas e a lidarmos e aceitarmos melhor aquilo que sentimos, aprendendo a expressá-lo de uma maneira mais adequada.
Que estratégias?
Técnicas de respiração, talvez?
Pela Arte? Acredito que sim!...pintura, música, teatro… desde que as pessoas encontrem nessa arte uma forma de estabelecer relação entre o mundo interno e o mundo externo.
Mas o mais importante, para mim, é SENTIR

éme. disse...

Patrícia, Cat, Mariana, e até eu...
Reparemos no começo do livro de Roland Barthes (Fragmentos de um Discurso Amoroso):

"A necessidade deste livro está contida na seguinte consideração: o discurso amoroso é hoje em dia de uma extrema solidão. Este discurso é talvez falado por milhares de pessoas (quem o sabe?), mas não é defendido por ninguém. Está completamente banido das linguagens circundantes: ignorado, desacreditado ou ridicularizado por elas, cortado não somente do poder, mas também dos seus mecanismos (ciências, conhecimentos, artes).
Quando um discurso é arrastado pela sua própria força na deriva do inactual e proscrito de todo o gregarismo, não lhe resta senão ser o lugar, por mais pequeno, duma afirmação. Esta afirmação é, em resumo, o assunto deste livro."
...
Ora, este livro, como diz o autor, teve a sua primeira edição em Paris, em 1977... que vos parece a sua (ou não) actualidade?
O discurso e a solidão... Porquê? Como?
Onde cabe o trabalho da Psicologia no sentido da promoção de novos tons para cada discurso?
Onde poderá ter lugar a presença de profissionais da Psicologia na promoção da relação humana?
Como pode a Psicologia e quem, profissional desta Ciência, combater a "solidão"?
Existirá Um modelo de aconselhamento que melhor responda a estas interrogações?... Será? Qual(is)? Porquê?

Mariana Coelho disse...

Partindo do princípio que vamos aprendendo gradualmente a controlar as nossas emoções, a reconhecê-las e a canalizá-las de forma apropriada, achamos que esta aprendizagem não acontece de “geração espontânea”, pode ser ensinada e aprendida. Aliás, encontramos autores que falam de “Educação Emocional”… Este tipo de educação encontra apoio em teorias como a teoria das inteligências múltiplas de Gardner. Segundo esta teoria podemos encontrar vários tipos de inteligência – a inteligência interpessoal e inteligência intrapessoal estão na base da inteligência emocional. Será então adequado que no ensino formal se dê primazia apenas às capacidades linguísticas e lógicas?!? Não será importante promover o desenvolvimento de outros tipos de inteligência? Talvez promovendo o desenvolvimento de capacidades de gestão de emoções/equilíbrio emocional e maturidade, por exemplo, as taxas de abandono escolar na Universidade e ansiedade aos exames diminuiriam… Talvez!!!
Através da educação deveríamos desenvolver a nossa personalidade integral: desenvolver o cognitivo mas também o emocional. Ou seja, deveríamos aprender a conhecer, a fazer, a conviver e especialmente, a saber ser! O apoio a estes tipos de aprendizagem deveria estar presente em todos os contextos de desenvolvimento em que o sujeito se move.
Como?
O aspecto central passa pela consciência emocional, ou seja, o conhecimento das próprias emoções e das emoções e dos outros. Esta consciência emocional consegue-se através da auto-observação e do comportamento dos que nos rodeiam, dando especial atenção às causas e consequências das emoções, à intensidade das emoções e à comunicação verbal e não verbal.
Possuindo uma consciência emocional estamos prontos para regular as nossas emoções. Entenda-se, antes de mais, que regular as emoções não significa reprimi-las, mas sim, “reconhecê-las e canalizá-las de forma adequada”. Voltamos à pergunta inicial! Como? Acreditamos ser possível através do diálogo interno, relaxamento, meditação, auto afirmações positivas, assertividade, reestruturação cognitiva, imaginação emotiva…


Será que todos vamos sendo gradualmente mais capazes de ajustar os nossos afectos?
Ao longo da nossa vida experimentamos continuamente emoções e muitas vezes passamos por situações de tensão emocional difíceis de controlar. Por exemplo, somos sistematicamente expostos a estímulos que nos provocam tensão emocional: imprevistos, conflitos, guerras, crises económicas, doenças, etc. Por vezes, gostaríamos de ultrapassar esta tensão de uma forma madura e coerente… mas não conseguimos. Porque? Será porque não possuímos uma “boa” gestão das nossas emoções, não as sabemos controlar, reconhecer e canalizar de forma adequada?
Note-se que, no nosso entender, o controlo emocional revela-se uma competência que é adquirida e que se desenvolve. No entanto, pessoas há que não possuem o desenvolvimento desta competência necessário para enfrentar determinada situação. Assim, podemos ter pessoas que conseguem ter uma auto-consciência emocional e controlar as suas emoções sozinhas, outras não o conseguem fazer e necessitam de uma ajuda (através dos pais, professores, psicólogos…).
Visto deste modo a escola e a família afirmam-se como contextos de extrema importância na aquisição desta auto-consciência emocional e regulação emocional…tão necessárias na nossa sociedade. No que diz respeito à escola já referimos que se dá mais importância ao cognitivo… E a família actual delega muitas vezes a responsabilidade da “educação emocional” à escola… mas saberá ela ensinar a regular as emoções?

Assim, tal como a Catarina disse esta aprendizagem é muitas vezes feita por tentativa e erro!!! Isto faz com que nos sintamos perdidos, dando especial atenção às consequências da nossa expressão emotiva. Partindo do pressuposto que existem várias emoções associadas a diversas situações, se pensarmos que a aprendizagem do controlo das emoções é feita por tentativa e erro… isto pode-nos levar a pensar que nunca conseguiríamos controlar efectivamente as nossas emoções. Sendo assim, pensamos que a auto-consciência emocional, o racionalizar as emoções poderá ser um caminho a seguir…


Mariana Coelho
Jorge André Martins

éme. disse...

Mariana e Jorge, que bom que vieram aqui lançar mais pontos de vista e novas caminhadas acerca da questão! Li com entusiasmo, o vosso texto claro e trabalhado.

Ora então terminam com a possibilidade da consciência emocional e o racionalizar as emoções de modo a garantir a gestão dos afectos...

Parece-me que o que devo fazer aqui é ficar caladinha e ver quem tem mais a dizer e como, não?
Logo que haja "reacções" vou tentar apanhar as franjas à solta das ideias todas, combinado?
- Muito grata pela vossa contribuição para que "isto" não termine... ai, que vai dar que falar... :)

éme. disse...

Desculpem, tenho de voltar:
Deixam ali no meio uma ideia fantástica:
"... Talvez promovendo o desenvolvimento de capacidades de gestão de emoções/equilíbrio emocional e maturidade, por exemplo, as taxas de abandono escolar na Universidade e ansiedade aos exames diminuiriam… ..."
Era bem provável, não?
E seguem afirmando:
"... aprender a conhecer, a fazer, a conviver e especialmente, a saber ser! O apoio a estes tipos de aprendizagem deveria estar presente em todos os contextos de desenvolvimento em que o sujeito se move."
E deixam a pergunta:
"Como? ..."
E eu pergunto convosco:
Como?

Juhaninha disse...

Vou lançar algumas ideias sobre o desenvolvimento dos estudantes universitários, a partir da teoria de Chickering, pois creio que é interessante, visto ser a nossa condição, no momento.

A transição para a universidade é um momento de crescimento pessoal, de desenvolvimento da autonomia e da interdependência (terceiro vector), estabelecimento da identidade (quinto vector) e da integridade (sétimo vector), bem como uma responsabilização cada vez maior. Neste contexto, o sujeito deve tomar decisões para aprender a equilibrar os objectivos de carreira, as aspirações pessoais e os compromissos com a família e com o self (sexto vector). Deste modo, o sujeito está em franco desenvolvimento a todos os níveis, mas para destacar a gestão das emoções (segundo vector)podemos afirmar que esta é uma altura em que o sujeito estabelece imensas relações, nomeadamente relações mais maduras (quarto vector), que lhe suscitam diversos sentimentos. Estas relações podem ser com pessoas novas ou conhecidas, por isso tem de haver um equilíbrio entre as diversas relações e, se houver uma alteração da hierarquia das mesmas, o sujeito deve ser capaz de lidar com essa mudança. E tem, também, de gerir as emoções relacionadas com as novas vivências e experiências, neste novo meio e nesta transição para o mundo dos adultos, em que a pressão para ser um bom profissional é exacerbada quer pelos professores, quer pelos pais e pelos mass media, sempre com as notícias de desemprego.
Os adultos estão sempre a dizer “O melhor tempo é o de estudante. Aproveita!”, mas para além da diversão que os alunos podem ter, há muitas responsabilidades, bem como uma “montanha russa” de sentimentos. A ida para uma escola nova muito mais exigente, em que a relação com os professores é mais distante, o método de ensino-aprendizagem mais rigoroso e as tarefas a realizar mais complexas, não esquecendo a mudança de contexto relacional, no qual conhecemos pouca gente ou mesmo ninguém, constitui uma problemática importante a ter em conta. Na verdade, estas mudanças têm de ser ajustadas, o que implica, também, o desenvolvimento de competências (primeiro vector). De facto, o aluno tem de lidar com emoções como tristeza, ansiedade, raiva, vergonha, alegria, entusiasmo e por aí fora…isto tudo, por exemplo, no mesmo dia, pois o período de transição é caracterizado por uma grande instabilidade emocional, que deve ser gerida, de modo a que este processo resulte numa adaptação positiva.

Inês Dimas disse...

Tal como aprendemos nas aulas, Chickering, considera que o desenvolvimento não resulta apenas de um processo de maturação interno, mas envolve também os desafios e as oportunidades proporcionados pelo ambiente de aprendizagem.
A gestão das emoções torna-se mais reflexiva à medida que vamos crescendo, embora seja variável consoante os indivíduos. Assim, é esperado que o jovem adulto tenha consciência dos seus sentimentos, reconhecendo que estes lhe dão informação relevante sobre os comportamentos e decisões acerca de planos futuros. Quando experimentamos um largo conjunto de sentimentos, a nossa expressão de controlo torna-se mais adequada. Não é só importante tomarmos consciência das nossas emoções, como também integrar esta informação.
“(os afectos) definidos simultaneamente como relações, comportam um dinamismo projectivo e uma tensão existencial que o pensamento nem sempre inclui” e o sentido da vida implica também a partilha de afectos. Ou seja, gerir as nossas emoções é não só importante para o nosso desenvolvimento, como também para o sentido que damos à nossa vida.
Ou seja, Chickering demonstra-nos que, no Ensino Superior, nós não devemos procurar somente o desenvolvimento intelectual, mas também o desenvolvimento físico, social e emocional.

Resta-nos reflectir se o caminho que temos percorrido até ao momento tem deixado fluir as nossas emoções, ou se, pelo contrário, temos estado adormecidos, perdendo oportunidades de crescermos em plenitude??!

Anónimo disse...

Chickering postula que o desenvolvimento psicossocial se processa por estádios ou períodos, definidos pela emergência de dimensões ou vectores de desenvolvimento. (Ferreira & Ferreira, 2005). Portanto, existem sete vectores sequenciais mas, neste caso particular, interessa-nos mais o dois, gerir as emoções.
Neste vector, o autor defende que o indivíduo deve ter consciência das suas emoções e deve fazer a integração das mesmas o que lhe irá permitir uma maior flexibilidade emocional. Salienta-se a importância dos desafios, das experiências, da acção, da representação simbólica e da reflexão para gerir adequadamente as emoções (Ferreira & Ferreira, 2001). Esta gestão está relacionada com objectivos pessoais, planos de futuro e aspirações, exigindo, por isso, processos reflexivos e interiores ao indivíduo no sentido de encontrar comportamentos internamente adaptados que possam ser geridos de modo ajustado e socialmente válido (Ferreira & Ferreira, 2005).
Ao reflectir acerca deste assunto, a primeira coisa que me veio à mente foi que os afectos são uma qualidade exclusivamente humana e se nós realmente fossemos capazes de gerir sempre adequadamente as nossas emoções, não seriamos seres humanos mas sim máquinas ou robots. Eles, por vezes, expressam-se sob a forma de impulsos que não conseguimos controlar…
Os afectos são subjectivos e complexos e um pouco irracionais, exercendo uma forte influência no modo como nos relacionamos com os outros, os nossos pensamentos e comportamentos e a forma como encaramos o nosso dia-a-dia. Tal como o texto refere, “os afectos são modos e figuras das relações que se constituem, estabelecem e exprimem nas diferentes formas (…) se inserem num espaço físico, social e cultural que condicionam e que os condiciona”.
Apesar disso, no nosso dia-a-dia, tentamos não nos deixar levar tanto pelas nossas emoções e afectos e sermos um pouco mais racionais e, isso implica alguma gestão da nossa parte – “Às vezes é preciso aprender, a ouvir e não responder, a falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar. Às vezes é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias, usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem a dizer…” (Margarida Rebelo Pinto).
Perante o explicitado, recordei-me de um filme, já um pouco antigo, de Steven Spielberg, AI – Inteligência Artificial (2001). Este filme conta a história de um menino robot, concebido como a mais sofisticada versão da robótica para sentir emoções e ter a capacidade de amar. Ele vai para uma família cujo filho está em estado de congelamento devido a uma doença, aguardando pelo momento em que a tecnologia seja mais favorável à sua cura. No entanto, vai ser por eles rejeitado quando o filho verdadeiro se recupera da doença que ameaçava a sua sobrevivência e é abandonado à mercê dos perigos de uma civilização preconceituosa contra as máquinas.
Penso que este filme demonstra claramente a necessidade que todos sentimos de sermos alvo do afecto de alguém e deixa-nos perguntas que ficam a vaguear pela nossa mente…

“Esperarias dois mil anos para ouvir um amo-te?”

(Catarina Feliciano, nº20051672)

Patrícia M. disse...

Este excerto remete-nos para a importância de sermos capazes de lidar com os nossos afectos, com as nossas emoções, não podemos fazer tudo o que nos vem à mente... temos que dominar aquilo que sentimos, as nossas emoções.
Como o próprio texto indica “se não dissocio os afectos do pensamento, não os reduzo ao pensamento”, se não penso antes de agir, então não consigo lidar com as minhas emoções. Devemos assim tal como nos diz Chickering, no 2º vector “gestor” das emoções, termos consciência das nossas emoções, sermos capazes de as indentificar, para assim aprender a controlar emoções, tais como a raiva, a ansiedade, a depressão, vergonha, culpa, para que as possamos canalizar de forma apropriada num equilibrio entre o o auto-controlo e a expressão das emoções. Devemos ter assim em conta o espaço físico, social e cultural em que estamos inseridos para sabermos quando e como podemos expressar as nossas emoções, até que ponto podemos ir na sua expressão, por exemplo, quando alguém está com muita raiva, uma forma de canalizar essa raiva poderá ser ir fazer exercício, ouvir música calma... controlando e integrando assim as suas emoções.

Patrícia Mano
nº20082499

rainbow disse...

A gestão de afectos/emoções constitui, segundo Chickering, um dos vectores de desenvolvimento dos estudantes universitários.
Considerando que as nossas emoções são como uma reacção - automáticas - a sua gestão passa pela consciência desse facto, sendo assim possível evitar por vezes transmitir algo em que verdadeiramente não acreditamos.

Chickering e Reisser (1993) confirmam esta ideia, defendendo que conhecer e ter consciência das emoções nos seus níveis máximos e mínimos é a chave para o desenvolvimento ao longo deste vector.

Alexandra Macedo (nº 20052645)